segunda-feira, 27 de outubro de 2025

A ilha de Santa Maria, Açores, e a atividade aeronáutica

 A ilha de Santa Maria está fortemente ligada ao setor aero espacial. Por boas e más razões.

Estrategicamente posicionada no meio do atlântico, foi  um espaço muito cobiçado por potências estrangeiras, designadamente França e Estados Unidos da América. As características  planas da zona oeste da ilha espantaram e agradaram os interessados. Durante a segunda guerra mundial conseguiu, este último Estado, a concessão do terreno para construção de uma pista, e com ela vieram outras infraestruturas de apoio logístico e também os necessários recursos humanos

Com a abertura de novas oportunidades, estes serviços foram talvez um dos responsáveis pela melhoria da qualidade de vida da população e o afastamento da rude e dura vida rural para outra que melhor sustentava as carentes famílias muito ligadas à agricultura de subsistência.

Com o tempo e o incremento das viagens aéreas intercontinentais, a falta de autonomia das aeronaves fez com que este porta-aviões no meio do oceano atlântico tivesse uma inusitada procura. Ainda durante esta estadia tive a possibilidade doe observar e acompanhar  um Boeing 757, com bandeira da IcelandAir e fretado pela Nathional Geographic, fazendo escala técnica para abastecimento de um voo proveniente de Marraquexe para Washinton DC.

A pista de grande dimensão, com cerca de 3000 metros ( acolheu a partir dos anos 70 o famoso Concorde, a caminho da América do Sul, em escalas técnicas para reabastecimento.

Mais recentemente a ilha recebeu a sede da Agência Espacial Portuguesa, que é uma organização criada pelo governo português para implementar a Estratégia Nacional para o Espaço, Portugal Espaço 2030. A implementação de uma estação de monitorização da Agência Espacial Europeia (ESA) na Ilha de Santa Maria, estabeleceu um marco importante na definição do papel de Portugal no contexto do Atlântico. O país está ainda a avaliar o desenvolvimento nos Açores de um porto espacial para pequenos lançadores .


A ilha tem também registos trágicos. Contrariamente ao que se julga, o maior acidente aéreo ocorrido em Portugal não foi o do avião da TAP, na Madeira, nos anos 70 do século XX. Um mais catastrófico, em que todos os passageiros e tripulação foram vítimas fatais, ocorreu em 1989. Um avião proveniente de Bérgamo, Itália, com 144 pessoas a bordo, operado por uma companhia charter americana, deveria fazer escala nesta ilha açoriana antes de continuar o seu percurso até às américas. Uma má interpretação das indicações fornecidas pelo controlador aéreo, associado a má visibilidade, fez com que o piloto perdesse altitude mais cedo do que devia, dos 3000 pés para os 1000 pés (cerca de 330 metros), fazendo com que a aeronave se pulverizasse contra a encosta nascente da serra central da ilha, junto ao Pico Alto, o ponto de maior altitude  da ilha de Santa Maria (cerca de 600 metros). Um lúgubre e monolítico monumento, onde constam o nome de todas as vítimas, foi erigido no local. Agora, 36 anos depois, ainda se encontram fotografias deixadas por familiares.

    

As simples e pequenas instalações do aeroporto da ilha de Santa Maria, que de grande só tem a pista, ainda conservam  uma torre de controlo de madeira,  provavelmente a original, para além de uma mais atual, moderna e imponente, naturalmente. Esta infraestrutura modesta é indicador claro de que a ilha, o governo regional e o Estado português nunca teve intenção de dar importância àquele aeroporto. Talvez por isso mesmo tem gradualmente perdido a sua importância estratégica. A ilha, tendo em conta a sua história aeronáutica, nunca se pôs em bico dos pés. É prova disso o uso quase caseiro daquele aeroporto: um senhor com alguma idade esperava um amigo num dos bancos do exterior da gare. Cada pessoa que passava era alvo de cumprimento e da sempre mesma inquirição: para onde viajas? Recebia a resposta com um sorriso simples e, talvez, com a esperança de estar um dia  no lugar deles.


 





quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Ilha de Santa Maria






A semana de 18 de outubro de 2025 estava reservada para umas curtas férias. O local escolhido estava dependente de fatores familiares. Depois de eliminada a hipótese de Cabo Verde, Marrocos e viagens pontuais por Portugal ferroviário com o passe verde, avancei para os Açores. Desta vez Santa Maria. Um destino há muito desejado, a aguardar melhores oportunidades.

Uma ilha com características diferentes das outras 8, menos verdejante (sem no entanto o deixar de ser, principalmente na sua parte mais alta e leste), recôndita e sem a habitual pressão de turistas ávidos de palmilhar quilómetros, permite aos visitantes usufruir de uma calma pouco habitual em terras continentais. Com formato de uma oval imperfeita, a ilha tem cerca de 15 por 5 km e é perfeitamente viável estar de manhã a visitar uma ponta e ir almoçar à outra ponta, mesmo sem auto estradas nem estradas de qualidade.
                        


Ótima região para relaxar, calcorrear percursos pedestres e ler. Aos amantes das caminhadas, aconselho o pequeno trilho, com cerca de 8 km, que une Vila do Porto à Praia Formosa, que passa por áreas classificadas no âmbito da proteção da natureza. Um percurso classificado como de dificuldade média, mas esqueceram-se de contabilizar um novo e forçado troço alternativo, já junto à Praia, onde uma parte de poucas centenas de metros do trilho abateu, junto á água e que contava com o apoio de um cabo para sustentação dos caminhantes, fazendo incrementar o percurso talvez mais de 2 km e com a exigência de subir um declive abrupto até á estrada alcatroada que dá acesso à povoação terminal. Os membros ressentiram-se e, para cereja amarga em cima do bolo, o excelente restaurante mesmo em cima do mar que forneceria um peixinho fresco grelhado como prêmio pelo esforço, encontrava-se fechado. Hélas. A vida é assim. Mais nenhum local aberto na pequena povoação que permitisse emborcar qualquer coisa. Ninguém na rua para informar. E para ajudar á festa, a camioneta da carreira que permitiria o regresso á capital, terminou no final de setembro o seu percurso balnear. Mais uns quilómetros serra acima para encontrar uma paragem operacional e uma tasca que permitisse repor os milhares de calorias gastos durante a manhã. Foi no café Stop, após uma conversa pouco fluida com o jovem proprietário, que consegui uma mini e uma gordurosa e recheada bifana que repuseram as forças. 

                           

Gastronomia típica difícil de encontrar. Através da radio ASAS do Atlântico consegui saber que o restaurante XX servia a característica sopa de nabo. Não hesitei. O prato que parecia um cozido aguado, com dois pedaços de carne, nabo, batata doce e pão, e que não animou o palato, custou a módica quantia de 17euros (!!!). E era prato do dia.

Turistas que alcancem esta ilha fora do pico dos meses de veraneio, saibam que vão encontrar muita dificuldade em arranjar restaurantes e bares abertos, para além da sua capital. Vale os bons preços de estadia, voo e rent-a-car.

      

A dourada e serena ilha de Santa Maria é também pródiga em recordes: foi a primeira ilha dos Açores a ser descoberta (por Gonçalo Velho, 1432/1433); a primeira a ser oficialmente povoada (meados do séc. XV, Vila do Porto, embora o primeiro desembarque tenha sido na Baia dos Anjos, no norte da ilha); a primeira a ser geologicamente formada, com cerca de 8 milhões de anos, contra a jovem ilha do Pico com poucas centenas de milhar; primeira com aeroporto de grande dimensão nos Açores (1944-46); primeira aterragem do avião Concorde em Portugal (anos 70, escala técnica regular); associada ao maior acidente aéreo em território português (1989 – 144 vítimas fatais); única ilha dos Açores com praias de areia clara natural e clima mais seco; ilha com solo sedimentar com fósseis marinhos, única nos Açores com estratos fossilíferos visíveis; primeira ilha açoriana usada como escala regular da navegação atlântica, desde o séc. XV, entre Europa–África–Índias–Brasil; primeira grande escala aérea transatlântica entre Europa e América. Santa Maria é a ilha das primeiras pegadas: primeiro chão, primeiro povo, primeiro porto do Atlântico e primeira pista para o céu.



Para quebrar o ritmo vertiginoso das metrópoles do continente, a ilha de Santa Maria é a solução.

Alojamento: pousada de juventude (quartos individuais e camaratas, para todos os gostos, junto ao mar, ao porto e ao forte de São Brás).

Restaurantes: Conversa com letras e O Descobridor (Vila do Porto), O Paquete (Praia Formosa), bar dos Anjos (Anjos), Ponta Negra (São Lourenço).

Rent-a-car: Prime Azores (contratualizar diretamente no seu site)

Atrações: Vila do Porto, Ermida de NS Anjos, Barreiro da Faneca, Pico Alto e monumento aos mortos do voo 1851, Praia de São Lourenço, Miradouro de São Lourenço, Poço da Pedreira, cooperativa de artesanato de Santa Maria, igreja de NS da Purificação, cascata do Aveiro, miradouro da Pedreira da Tia Paulinha, miradouro e vigia da baleia, farol de Gonçalo Velho e antiga fábrica da baleia, calçada do gigante, reserva florestal recreio das Fontinhas, museu de Santa Maria, Casa dos Fósseis // Centro de Interpretação Ambiental Dalberto Pombo.

Mais informação:






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