Quem se recorda do antigo farol de Cacilhas? Elegante e esbelto, mostrava-se á aldeia dos asininos e á alba Lisboa, e salvaguardava em permanência a navegabilidade do rio. Era um marco para quem visitava a povoação. As crianças da altura, puxadas pelas mães para não perderem as camionetas, viravam os grandes olhos para cima, miravam a intensa luz e magicavam histórias de piratas e navios afundados com valiosos tesouros.
Em visita a ilha Terceira, após passagem pelo refrescante Mata da Serreta, obra ancestral dos serviços florestais locais, fomos visitar o farol com o mesmo nome na zona mais ocidental da ilha, na Ponta do Queimado, sobranceira às ilhas São Jorge e Graciosa, e rodeada pela característica floresta laurissilva. Verificámos espantados que o farol em causa, construído no início do século XX, foi danificado na sua estrutura pelo violento sismo de 1 de janeiro de 1980, e, na sua reconstrução, utilizaram nada mais nada menos que a torre metálica do farol de Cacilhas, desativado em 1978 devido a construção de um novo cais fluvial e por já não se justificar a sua função.
No início do século XXI, a câmara municipal de Almada manifestou interesse na antiga e emblemática estrutura, regressando o farol á sua localização de origem, agora mais viajado e conhecedor de outras terras, deixando no seu lugar uma estrutura em fibra de vidro com altura semelhante embora com menos alcance luminoso.
Perdeu a Ponta do Queimado uma torre de um farol do século XIX e ganhou o concelho de Almada o seu emblema de longa data agora, não de cor verde escura mas de um vermelho tão intenso que substituiria a iluminação caso esta ainda fosse necessária.