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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Good morning Vietnam

 

Abril de 1995. Recordo-me que passámos o 25 de Abril em Saigão, data também importante para o povo deste maravilhoso país. Permanecemos cerca de um mês principalmente no Vietname mas também na Tailândia.

Depois de muito pesquisar em livros (na altura a Internet ainda não estava massificada) lá conseguimos programar o percurso e encontrámos a agência de viagem que mais barato apresentava (na altura a viagem e os gastos ficaram em cerca de 1250 euros – 250 contos), curiosamente com sede num edifício contígua ao local onde trabalhava (DGF). Como não poderia deixar de ser, o guia de viagem LonelyPlanet foi mais uma vez crucial no planeamento e na execução.

O exotismo da região, o mito da guerra e o facto da Raquel estar nesse momento em transito profissional por este país, fez com que optássemos por esta viagem.

Éramos 4: a Lena, o João (na altura já casados) e o Rui, amigos de faculdade e de infância, alguns de nós.

E lá partimos em viagem para o fim-do-mundo, na nossa primeira incursão na Ásia profunda (já tínhamos estado, eu e o João, na parte asiática da Turquia, cerca de 8 anos antes).

Apanhámos o 747 da Thai em Madrid. O aeroporto de Barajas permite sonhar: contrariamente à Portela existem partidas para os quatro cantos do mundo. Após uma escala em Roma, lá seguimos em direção ao sol nascente. Chegámos a Bangkok de manhã (local) com um jetlag negativo fortíssimo. Viajar a esta velocidade para Este é sempre muito mais complicado.

Bangkok realça-se pela poluição, trânsito, templos budistas, cheiros intensos e pela pressão da população (muita, mas mesmo muito gente nas ruas). Ficámos num hotel razoável, com uma piscina que foi uma autêntica lufada de ar fresco naquela região com água até no ar.

Na Tailândia visitámos ainda o mercado flutuante, a algumas dezenas de quilómetros a Oeste de Bangkok, em direção da fronteira com a Birmânia/Myanmar. Pouco interesse, pese embora o exotismo.
Um misto de feira da ladra, de feira de Carcavelos e de Cais-do-Sodré foi a impressão com que ficámos de Patpong, no interior de Bangkok. Uma concentração de vendedores jamais vista, estabelecidos em lojas ou em simples bancas no meio da rua, faziam com que nos sentíssemos noutro planeta. Os bares de strip e de outros espetáculos ao vivo são uma autentica atração. Quem visitar este bairro, liberte-se dos tabus ocidentais e veja os espetáculos Go-GO que, a parte o especto emotivo que choca com as boas regras ocidentais, são autênticos deslumbramentos de cor, curiosidade e espanto.

Pessoal muito aberto e extrovertido. O Rui, durante vários anos, ainda se correspondeu com uma simpática tailandesa (e sem utilização de email ou outras novas tecnologias inexistentes na época. Puo e duro snail-mail).

Viagem curta, de avião, entre Bangkok e Hanoi. Num país a abrir-se ao exterior, as dificuldades de entrada foram muitas, como várias horas de espera na fronteira, carimbos, aberturas de malas e alguma arrogância dos elementos policiais. Mas cá foram tínhamos a Raquel e o Eric à nossa espera que, com a sua boa disposição e alegria afastaram as nuvens cinzentas que pairaram na chegada. E lá fomos para o centro Hanói, pela autoestrada, entre ciclistas que transportavam porcos, galinhas e outros animais, habitantes locais que utilizam a via como caminho privilegiado, e inversões de marcha e manobras pouco recomendáveis.
Embora já tivéssemos o itinerário mais ou menos programado, a receção da Raquel e do Eric, para além de reconfortante num país estranho e aparentemente hostil para o nosso grupo latino, ajudou-nos a readaptar o percursos e locais a visitar.

Hanoi é maravilhosamente estranha. Ainda com muitos vestígios da colonização francesa, a mistura arquitetónica e de hábitos é curioso. A salientar nesta cidade:
- Uma lindíssima praça no centro da cidade (junto ao teatro da marionetes aquáticas), com o seu lago, ilhas e arvoredo paisagisticamente bem enquadrado.
- Imperdível assistir ao espetáculo de marionetas aquáticas.

- O trânsito é intensíssimo. Atravessar uma rua torna-se hilariante. Sem passadeiras, a regra é básica: olhar para o outro lado e atravessar lentamente por forma a que os condutores (99% de bicicletas e motociclos) possa calcular mentalmente a nossa trajetória. NUNCA parar e arrancar, tentando fugir aos veículos.

- Comemos pernas de rãs pela primeira vez (pelo tamanho mais parecia ser membros inferiores de sapos).

Aconselhados pela Raquel, fomos testar as nossas costelas de navegadores para a Baía d’Along. Através de uma agência de viagens local, com o apoio de um guia Vietnamita extrovertido e simpático, um grupo pequeno de estrangeiros, onde nos incluímos, percorreram as muitas ilhas em formato de agulha que existem naquela zona do Mar da China Meridional. Dois dias a flutuar por aquelas águas calmas, dormindo e comando na embarcação. Especial menção à ilha de Cat Ba, já com alguma dimensão, onde visitámos uma floresta tropical, a povoação local em franca expansão urbanística e com infraestruturas urbanísticas a serem construídas com o apoio da então Comunidade Europeia (é estranho ver um placard de anúncio de obra, num lugar tão recôndito, com a estrelada bandeira europeia).

Tivemos aí o primeiro contacto com o cão como uma espécie para consumo doméstico, na verdadeira aceção da palavra: após os vermos em autênticas gaiolas, no mercado, junto aos galináceos e aos vegetais, no percurso de regresso ao barco, tivemos a possibilidade de assistir ao estripar de um desses simpáticos animais, à semelhança do que se fazia há alguns anos atrás com os cabritos nas festas tradicionais do interior português.

De regresso a Hanói, e após visitarmos algumas bonitas paisagens da sua periferia rural, avançámos no comboio da reunificação (Expresso da Reunificação) em direção ao centro e sul do país. Um compartimento com as célebres couchettes que se adaptou ao número de elementos do nosso grupo. Não me recordo quanto pagámos mas mesmo com a então necessária taxa para turistas (abolida em 2002), os cerca de 800 km de viagem não deve ter ultrapassado os 20 euros, incluindo alimentação (forneciam alimentação durante a viagem, tipo avião, mas aparentemente confecionada no próprio comboio). Vista maravilha da janela da nossa carruagem, com especial menção ao troço entre Hué e Da Nang, onde terminámos a viagem de comboio.


Através de conhecimentos de terceiros, conseguimos uma habitação familiar com alguns quartos no primeiro andar, com condições mínimas, mosquiteiros nas camas e junto à praia de Palm Beach (local de férias de dos soldados americanos em licença). Os donos da casa dominavam o francês, o que facilitou a comunicação.


Da Nang é uma cidade sem grande interesse, salvo a paisagem costeira. Hoi Na, uma pequena vila a poucos quilómetros a sul de Da Nang, possui um pequeno porto onde os portugueses à centenas de anos deixaram raízes.


Tivemos oportunidade de adquirir a um pescador algum camarão, o qual foi confecionado e servido pela sua família, na sua casa de terra batida junto à praia. A imagem que ficou foi a de quatro ocidentais a consumirem marisco à volta de uma mesa, a família do pescador sentada em nosso redor a observar alternadamente esta cena estranha (apesar da nossa insistência para se juntarem a nós) e a televisão próxima, . O som de fundo proveniente da televisão fez-nos voltar a cabeça e confirmar espantados que estava a ser emitida a telenovela brasileira Escrava Isaura.


Visitámos a cidade imperial de Hué, antiga capital do país. Relativamente bem conservada e com grande quantidade de turistas, particularmente nacionais.

Saímos de Da Nang em direção a Na Trang por via rodoviária, recorrendo a um mini-bus. Cidade turística, com uma praia fenomenal, deu-nos guarida por alguns dias. Restabelecemos as forças na praia e encontrámos um autóctone que conhecia algumas palavras de português, e as personalidades Álvaro Cunhal e um jogador de futebol muito conhecido na altura. O ananás cortado e servido perto do mar e as massagens ministradas em plena praia são ex-líbris neste local. Aproveitámos para uma nova incursão no mar quente do Vietname para visitar umas ilhas a alguns quilómetros da costa e fazer mergulho em apneia.


Já no término da viagem, avançámos para Saigão, denominada Ho Chi Min logo após o fim da guerra com os americanos, em memória do líder vietnamita. É uma cidade que não tem o encanto das do norte. Caótica, desordenada, poluída, o seu encanto não vai para além da carga mítica que a envolve. De salientar alguns museus e, junto à fronteira com o Camboja, os túneis de Cu Chi, local onde os vietcongs se furtavam ao exercito americano, em autenticas cidades subterrâneas.


Gastámos cerca de 24 horas a regressar ao aeroporto da Portela, partindo de Ho Chi Min e fazendo escala em Bangkok e Madrid.


Um país a visitar, certamente muito mais aberto ao turismo do que em 1995.




Ficha de viagem

Países: Tailândia, Vietname
Cidades/locais visitados: Bangkok, Mercado Flutuante, Hanoi, Hai Phong, Baia d'Along, ilha de Cat Ba, cidade imperial de Hue, Da Nang, Hoi An, Na Trang, ilha de Hon Tre, Ho Chi Minh-Saigão, túneis de Cu Chi.
Meios de transporte utilizados: Avião, Barco, Comboio, Miniautocarro
Data de início: Março de 1995
Data de Fim: Abril de 1995
Tempo de permanência: cerca de 1 mês
Mapa: