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segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Caminho de Santiago - temporada 2, episódio 1 - dia 3 - 22ago2021 - Valença-O Porriño - 20,07 km

Preámbulo

Faz já cerca de 2 meses que começámos o caminho de Santiago com partida em  Ponte de Lima. Cerca de 40 km até à fronteira, em duas etapas, com pernoita em Rubiães, e uma dura passagem pela serra da Labruja. O curto fim de semana terminou em Valença, com a promessa de continuação do empreendimento para mais tarde. 

O relato do percurso consta neste blog.

Episodio 1

Com o objetivo de atingir Santiago de Compostela, mais cerca de 120 km, retomou-se hoje, 22 de Agosto de 2021, o Caminho, em Valença, com direção a O Porriño. Cerca de 20 km (efetivamente as duas dezenas é o valor médio de cada troço o que permirira atingir o objetivo final em 6 dias).

Uma boleia da Lourdes e da Sofia, desde Santa Cruz do Lima, permitiu o pontapé de saída. Chegamos a Valença cerca de 9 horas, num domingo que imprimia à urbe muita humidade, nevoeiro, frescura e enorme carência de pessoas.

Nota-se claramente que o percurso, talvez por estarmos em Agosto, apresenta uma maior densidade de utilizadores. Na sua fase inicial, na fronteira,  principalmente  portugueses e espanhóis. A passagem pela secular e férrea ponte internacional de Valença é sempre um ex-libris. Cerca de 150 anos antes da ponte 25 de Abril, já  apresentava um tabuleiro para comboio (o de cima) e outro para circulação rodoviária. E também pedestre, projectando os caminhantes de Santiago ao longo da extensa massa de água do rio Minho até à margem galega.

Tui. Uma cidade de pedra e com o seu núcleo histórico que nos permite viver uma experiência  da idade média, tão bem conservados que estão os arruamentos e edifícios.

Serpentiando pelo Caminho, inicialmente por ruas e ruelas e depois por veredas e trilhos de pé posto, procura-se uma distância razoável dos grupos numerosos e ruidosos de caminhantes. 

As pontes romanas, vergadas sob o peso da sua idade, transportavam os antigos viajantes  até à central  cidade de Artorga, que viu aumentada a sua importância, com a ajuda da Igreja medieval, precisamente por estar no caminho de Santiago. 

Nos idos anos de 1240, ao chegar à ponte das febres, São Telmo, em peregrinação a Santiago de Compostela, assolado por febres altas causadas pelo paludismo (doença endémica à época ), decide regressar a Tui onde morre, não sem antes  deixar a promessa de livrar de todos os pecados aquela vila. Os pecadores condenados ao cilício da malária só viram o seu expiamento cerca de 800 anos depois, com a erradicação da doença.  

A cerca de meio caminho, colocou-se um dilema ao caminante: optar pelo caminho mais curto mas mais fatigante (sem sombras, piso incómodo, passagem por uma zona industrial) ou pelo caminho mais longo (seguindo essencialmente pelo interior de manchas florestais, junto à regatos). Pelo constatado, esta variante espiritual foi a mais escolhida. 

Depois de uma caminhada fatigante e  abrasadora, com temperaturas superiores a 30 °C, e onde o alcatrão foi uma constante, a Pension Louro em O Porriño foi um autêntico oásis fresco e repousante. 

Porriña senhora madrinha, que isto não está a ser fácil... 🥴🥴


domingo, 4 de julho de 2021

Dia 2 - 3Jul2021 - sábado - Rubiães - Valença - 19km



Saída às 7horas de Rubiães, depois de um pequeno almoço bem guarnecido fornecido pelo Albergue. Grande parte dos alojados já tinha partido. Ficaram só para trás os peregrinos provenientes da Suíça e do Brasil. 

O percurso continua, sinuoso, bem delineado e marcado, transpondo linhas de água com recurso a obras romanas e medievais. E sempre com o apoio dos autóctones, simpático, por vezes rotineiro: "Bom Caminho". 
Primeira paragem : São Bento da Porta Aberta. Não a do Gerês. Mais um carimbo para a caderneta. E um café e um rissol de camarão (o café substituiu, por vergonha social, a malguinha de verde tinto 😁). 

Desde esse local, o percurso descendente segue pela encosta norte da serra minhota, em direção ao caudaloso rio Minho. O Caminho está muito bem traçado, gerido, sinalizado e possui troços ainda com o pavimento original, de granito, bem polido pelas solas dos intemporais caminhantes. 
Vegetação luxuriante, verdejante, que com a sua sombra cerrada e o chilrear da passarada, acompanha permanentemente os caminhantes. Neste cenário estamos à espera que, numa volta do caminho, surja um poderoso romano artilhado com o seu gládio e a armadura de couro. 
Já às portas de Valença passa por mim a caminhante suíça. Com a cadência que imprimia ao passo, certamente que não parou no café do rissol e muito menos saboreu o tinto verde, daquele que suja a malga e retarda o ritmo. 
Chegada a Valença, a 117km de Santiago. 
Ao longo de todo o percurso, muitos restaurantes oferecem e publicitam o menu do peregrino. Subentender-se que é uma opção mais económica, em detrimento da variedade de escolha, pode ser um engano. Devem os caminhantes ficar alerta: em Valença encontrei um menu do peregrino por 11 euros (opções de prato principal nada de especial), enquanto numa rua perpendicular e já fora da rota, um menu geral, rico e completo, podia ser degustado, numa magnífica esplanada, por um valor significativamente inferior. Pouco católico, aquele comerciante. 😄 
A estação de camionagem, onde me deveria informar dos horários de regresso a Ponte Lima, é um edifício fantasma, encerrado, devoluto, sem informação aos viajantes. Questionei um motorista do expresso de Santiago acabado de chegar. 
- Camioneta para Ponte de Lima? Pois, não sei. Talvez até nem haja hoje, que é sábado, e ainda por cima com a Covid... A informação na Internet era carente e  inconclusiva. O serviço de camionetas e  aquelas instalações não dão uma boa impressão a quam visita Valença. 
Mais uma vez o comboio venceu o autocarro, não para Ponte de Lima mas sim para Viana, onde a Lourdes me esperava. Passagem obrigatória no Natário, pelas suas maravilhosas bolas  (!!!!) e pelos seus deliciosos doces de gila. 
Consideremos este percurso, Ponte de Lima - Valença, com cerca de 37 km, um aperitivo para os restantes 120 km, totalmente em território espanhol, previstos para a última quinzena de agosto. Porque o caminho português de Santiago não tem significado se for totalmente efetuado em território espanhol. 
Até lá e buon camino!!