- Câmara Municipal de Gavião, boa tarde.
- Olá, boa tarde. Pode-me passar ao posto de turismo?
- ... o posto de turismo está fechado... Vou tentar passar ao técnico de turismo do município.... não... são 17horas e um minuto e já deve ter saído... Sim, já saiu.
- Eu só queria saber se um percurso pedestre do município se encontrava aberto...
- Está a falar da rota da Sirga? - interrompeu a telefonista.
- Essa, sim...
- Sim, já está aberta. Pode percorrê-la, sem problemas.
Agradeci, desliguei e fiquei a pensar na importância da polivalência das telefonistas de pequenos municípios.
No dia seguinte o comboio partiu com rigor britânico. 7h46. Num feriado é ainda madrugada. A carruagem está salpicada de trabalhadores sonolentos. A atenção passou a ser a janela por onde se começa a ver o Tejo, acariciado por uma nébula rasteira. O castelo de Almourol e algumas garças cinzentas parecem flutuar num ambiente feérico. Com este cenário não temos qualquer dúvida que a princesa moura espera o seu príncipe atrás daquela janela rasgada nas espessas paredes de pedra.
Chegada a Belver. O castelo altaneiro e muito bem conservado domina a vila e o rio.
É necessário percorrer cerca de 1km para chegar ao início do trilho, passando pela quase centenária ponte que liga as duas margens do Tejo e que aproxima as principais localidades do concelho.
Inicia-se a pequena rota PR8, linear e com cerca de 6km. Quem espera um percurso plano, com bom piso, totalmente sustentado em passadiços, tal como o vizinho PR que passa pela praia do Alamal, desengane-se. Apesar de acompanhar o rio pela marguem esquerda, sempre a rasar a superfície da água, o trilho tem desníveis constantes, curtos mas de grande inclinação e apresenta um piso de rocha, o que dificulta grandemente a marcha e é muito exigente para as articulações dos membros inferiores. Efetivamente não entendia como o folheto que divulga o percurso refere 3 horas para fazer os 6km, mas depois de o iniciar verifica-se a razão.
O rio vai gordo e túrgido. Na verdade, nesta zona, estamos na presença da albufeira da barragem de Belver, que se estende quase até a barragem mais a montante, de Fratel.
Durante todo o percurso não se vislumbram povoações, nem sequer habitações, nem outros caminhantes, pelo que a sensação de envolvência no ambiente é total. Caminho sobre tapete multicolor de folhas castanhas, erva verdejante e xisto glauco, por entre túneis de vegetação na fase inicial do percurso e, na fase final, com bastantes troços com passadiços praticamente suspensos sobre a água e de onde se observam pedaços de sigra submersos na água e no tempo.
No fim do trilho o caminhante desemboca no PR2, que o leva até a aldeia de Atalaia, zonas longínquas de locais onde se pode apanhar um comboio. A solução é, pois, o regresso pelo mesmo caminho e deslumbrar-se com perspetivas e cenários diferentes apesar do percurso ser o mesmo.
Regresso à deserta estação de Belver, hoje nem tanto dado final do fim de semana prolongado, onde o regional traz todos de regresso ao Entroncamento.
Um total de cerca de 15km percorridos, ganho de elevação de 450 m e derretidas 550 calorias, num percurso ideal para quem pretende passar algumas horas consumindo energia e revigorando o cérebro, entre guarda rios, lontras e fresca e bruxuleante vegetação ripícola, num ecossistema de enorme biodiversidade.
A visitar!!!
PS: para quem se questionou acerca da razão do encerramento do trilho, o ICNF e a CM de Gavião optaram por esta medida para evitar que os grifos aí existentes, na sua fase de nidificação, abandonassem as colónias devido á proximidade do bicho-homem. Mais informação aqui.