segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Caminho de Santiago - dia 7 - 26ago2021 - Caldas del Rei - Cruces/Escravitude - 30,1km




Saída de Caldas del Rei pelas 7 horas a partir da ponte romana, ainda de noite. 

O percurso decorreu com a normalidade habitual, por zonas de densos carvalhais que protegem linhas de água aconchegadas em vales profundos.

Passagem por Padron. A cidade de origem dos famosos e deliciosos pimentos padron e onde atracou o barco que transportou o corpo decapitado de São Tiago, proveniente de Roma, em direcção à  sepultura final no campo das estrelas (campo + estelas = compostela). Cidade com muitos peregrinos mas que não se deixa abafar por eles, como aconteceu em Caldas. A casa de Don Pepe, de visita obrigatória, localizada em frente à igreja, oferece, através do seu proprietário, Don Pepe, simpatia, tapas, bocadinhos e shots de licor de ervas e de café,  suficientes para sustentar mais 10 km de marcha com mochila pesada às costas.

De visita à  igreja de Santiago, em Padron, local onde se encontra em exposicao a pedra (pédron) que prendeu a embarcação que trouxe o apóstolo martirizado de volta  à ibéria, na expectativa de angariar novo carimbo, dirigimo-nos a uma solícita senhora que, dentro da igreja e por detrás de uma enorme secretária, carimbava as cadernetas dos peregrinos. " De onde são ustedes?" ,  questiona. Depois de respondermos, ela, com os olhos mais brilhantes diz "Há muitos portugueses  no Caminho. Vêm  Da Casa" . Sem perceber muito bem, na altura, o significado da expressão, depreendi posteriormente que talvez se referisse à  maior ligacao com o povo  luso do que com os castelhano.

Este foi o maior troço previsto de entre os seis a efetuar, até uma povoação com nome estranho. Conta a estória que um doente que estava no Caminho de Santiago para curar sua hidropisia (doença citada na bíblia,  para dar mais força ao conto), parou na fonte agora enquadrada pela igreja de Escravitude para beber, sendo curado 72 horas depois, sem a intervenção de nenhum médico. Por isso, o homem exclamou "Gracias, Virxe, que me libraches da escravitude do meu mal." Desta forma, este alegado evento  passou a ser parte viva da origem deste santuário, que começou a ser construído graças à carroça de bois que o viajante doou para tal obra, concluída em 1886. O Caminho de Santiago vive  destes contos.

Última albergue da viagem. Casa fantasma, sem staff.  Cheguei, entrei, lavei a roupa, tomei banho, e só algumas horas depois apareceu o proprietário que, simpaticamente, colocou à disposição de todos os ingredientes para o pequeno almoço do dia seguinte e explanou, solícito, os serviços disponibilizados. 

O casal de portugueses e o de alemães seguiram o seu rumo, permanecendo em albergues distintos, sem no entanto conseguirem garantir que não nos iremos encontrar  novamente até Santiago. Ficam os contatos de telemóveis e de correio eletrónico, garante de que a ligação é para manter.

Caminho de Santiago - dia 6 - 25ago2021 - Pontevedra - Caldas del Rei - 24,7 km



Saída do albergue antes do nascer do sol depois de um bom pequeno almoço made by Mercadona. Sala de refeições muito concorrida e que pressupunha grande densidade de caminheiro no próximo troço.

Inicio percurso na companhia da um casal de portugueses e dos amigos alemães já mencionados anteriormente. Dia muito menos quente, talvez pelo aumento da latitude. 

Como previsto, o Caminho de Santiago nos primeiros quilómetros a partir de Pontevedra mais parecia a segunda circular em hora de ponta. Retornaram os grupos barulhentos, principalmente portugueses sem tento na lingua nem no volume. Com o tempo e o passar dos quilómetros  os peregrinos  comecaram-se a dispersar e retomaram   os momentos de paz e sossego. Primeira paragem no sopé de uma colina, num moderno café estrategicamente colocado que acolhia os muitos caminheiro sequisos e famintos.

A cerca de meia dúzia de quilómetros antes da chegada a Caldas del Rei um painel informativo assinalava a entrada num Parque Natural da ria Barosa. Um espaço com um significado diferente daquele que damos às nossas áreas protegidas: nada mais do que uma zona de lazer, florestal, com percursos pedestres, e um Ribeiro esquivo e ameandrado  (uma palavra que, curiosamente não existe no dicionário português, mas no espanhol sim) e que numa determiada zona culmina com um macisso de rocha, transformando se numa cascata bem aproveitada pelos autóctones e turistas.

Chegada ao albergue de Caldas del Rei. Afogueado, depois de mais de 24km,  nunca pensei que a a medição da temperatura corporal para controlo do COVID efetuada pela simpática e jeitosa rececionista da estância pudesse registar somente 36°C. 

Passagem pelo tanque de lavagem com água termal e pelo ritual de escaldar os pés. Experiência curiosa onde não só os caminhantes acalmam as suas dolorosas bolhas mas também  onde autóctones tomam banho. Não conseguindo descobrir o local onde a água quente entra no grande tanque, presumi que a alta temperatura se deveria às fogosas meninas que, com os seus fatos de banho de dimensões tímidas, aqueciam o ambiente...

Jantar Internacional com portugueses e alemães, degustando tapas espanholas, ao estilo partilhado dos restaurantes chineses.