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sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Os 30 km de Viana - Caminha


Os galos anteciparam-se ao despertador do smartphone. 6 horas e inicia-se o raiar lento da manhã. 


O mini autocarro barulhento, semi cheio, encostou á paragem. Recorrendo a um molho de notas enterradas no bolso das calças e às moedas pretas armazenadas na caixa, o motorista faz o troco dos 4.5 euros. 
- É mais barato se comprar o bilhete já para Viana mas tem de mudar em Ponte de Lima, retorquiu o condutor. E assim fiz.
- Fecha essa janela, caralh*, parece que vai gear esta noite - exige uma passageira reinadia à sua amiga e companheira de banco. 
Ponte de Lima, Lanheses, Santa Marta de Portuzelo, Viana do Castelo. Estação de camionetas bem e milimetricamente  inserida na magnífica estação de comboios, local de onde deveria ter partido o primeiro comboio na linha do Lima, o que nunca chegou a acontecer, embora os trabalhos tenham, em tempos idos, sido iniciados. 
Início do planeado percurso pedestre. Mais um troço do Caminho de Santiago, este sem preocupação em angariar carimbos. Seguindo a ecovia do litoral atlântico que coincide com uma das alternativas do caminho de Santiago, caminho português da costa, chega-se a Caminha cerca de 30km depois. Troço de alguma distância e esforço apesar de não se assinalarem desníveis exigentes. 


Em Viana observa-se a logística e as infraestruturas provisórias instaladas para satisfazerem  as desejadas festas da Nossa Senhora da Agonia, de agosto de 2022, que rapidamente ficam para trás. Retoma-se o percurso junto à orla marítima. Viana, Carreço, Afife, Âncora e a sua praia, Moledo e Caminha. Percorrem-se praias proletárias, como a de Âncora, e zonas balneares burguesas onde o tipo de viaturas estacionadas e as vivendas estivais de segunda habitação são uma clara evidência do desafogo financeiro dos seu proprietários.  

 

 

Percurso em passadiços, trilho de terra batida e até em areia solta e escorregadia, permite a visita de ancestrais fortes que se opuseram a corsários e  piratas, estranhas torres, curiosas formações geológicas, campos forrados a urze lilás que contrastam com o azul do mar.


Antes da entrada em Caminha, já com mais de 25 km calcorreados, os pés obrigaram a um descanso em plena Mata Nacional do Camarido. Ancestral Mata que resulta de um grande esforço de gestão por parte dos engenheiros florestais do norte, sem conseguirem contudo, nalgumas zonas,  contrariar a força, pujança e determinação das acácias. 



Chegada a Caminha, praça central. Mais de 30 km atingidos numa só tirada. Último esforço até a estação de comboios onde uma composição ronceira mas confortável calcorreia o percurso de regresso a Viana.

Regresso a Ponte de Lima de camioneta. Para ser mais rápido optei por camioneta expresso proveniente de Lisboa. O dobro do preço que seria compensado pelo ganho de tempo, por já se faxer tarde.  Passou a hora da estipulada partida. Entretanto a carreira ordinária partiu e nós à espera do famigerado expresso. As festas da Senhora da Agonia e o consequente aumento de tráfego trocaram as voltas à carreiro expresso que cegou a Ponte de Lima 30 minutos após a carreira normal. O cansaço e o estado de alucinação imposto pelas maravilhosas paisagens litorais fizeram  com que a rede de Expressos não fosse insultada pelo caminhante.


Minho, agosto de 2022