Preámbulo
Faz já cerca de 2 meses que começámos o caminho de Santiago com partida em Ponte de Lima. Cerca de 40 km até à fronteira, em duas etapas, com pernoita em Rubiães, e uma dura passagem pela serra da Labruja. O curto fim de semana terminou em Valença, com a promessa de continuação do empreendimento para mais tarde.
O relato do percurso consta neste blog.
Episodio 1
Com o objetivo de atingir Santiago de Compostela, mais cerca de 120 km, retomou-se hoje, 22 de Agosto de 2021, o Caminho, em Valença, com direção a O Porriño. Cerca de 20 km (efetivamente as duas dezenas é o valor médio de cada troço o que permirira atingir o objetivo final em 6 dias).
Uma boleia da Lourdes e da Sofia, desde Santa Cruz do Lima, permitiu o pontapé de saída. Chegamos a Valença cerca de 9 horas, num domingo que imprimia à urbe muita humidade, nevoeiro, frescura e enorme carência de pessoas.
Nota-se claramente que o percurso, talvez por estarmos em Agosto, apresenta uma maior densidade de utilizadores. Na sua fase inicial, na fronteira, principalmente portugueses e espanhóis. A passagem pela secular e férrea ponte internacional de Valença é sempre um ex-libris. Cerca de 150 anos antes da ponte 25 de Abril, já apresentava um tabuleiro para comboio (o de cima) e outro para circulação rodoviária. E também pedestre, projectando os caminhantes de Santiago ao longo da extensa massa de água do rio Minho até à margem galega.
Tui. Uma cidade de pedra e com o seu núcleo histórico que nos permite viver uma experiência da idade média, tão bem conservados que estão os arruamentos e edifícios.
Serpentiando pelo Caminho, inicialmente por ruas e ruelas e depois por veredas e trilhos de pé posto, procura-se uma distância razoável dos grupos numerosos e ruidosos de caminhantes.
As pontes romanas, vergadas sob o peso da sua idade, transportavam os antigos viajantes até à central cidade de Artorga, que viu aumentada a sua importância, com a ajuda da Igreja medieval, precisamente por estar no caminho de Santiago.
Nos idos anos de 1240, ao chegar à ponte das febres, São Telmo, em peregrinação a Santiago de Compostela, assolado por febres altas causadas pelo paludismo (doença endémica à época ), decide regressar a Tui onde morre, não sem antes deixar a promessa de livrar de todos os pecados aquela vila. Os pecadores condenados ao cilício da malária só viram o seu expiamento cerca de 800 anos depois, com a erradicação da doença.
A cerca de meio caminho, colocou-se um dilema ao caminante: optar pelo caminho mais curto mas mais fatigante (sem sombras, piso incómodo, passagem por uma zona industrial) ou pelo caminho mais longo (seguindo essencialmente pelo interior de manchas florestais, junto à regatos). Pelo constatado, esta variante espiritual foi a mais escolhida.
Depois de uma caminhada fatigante e abrasadora, com temperaturas superiores a 30 °C, e onde o alcatrão foi uma constante, a Pension Louro em O Porriño foi um autêntico oásis fresco e repousante.
Porriña senhora madrinha, que isto não está a ser fácil... 🥴🥴