Vale do Lima. Zona montanhosa, bucólica e verdejante. Machas de povamentos florestais de matizadas de verde, mescladas de casario branco e cor de telha. As linhas de água canalizam o precioso líquido em corrida mais ou menos rápida. Sentados numa relaxante cadeira, sob uma contorcida nogueira, a meia encosta do famoso vale, saboreamos esta agradável paisagem. O paraiso!!
Mas não tanto. Com decibéis que ultrapassam certamente os valoŕes recomendados ou mesmo legais, a música vomitada pelos altifalantes das igrejas arranham os timpanos mais calejados.
"Tu queres mas não ten'rabo", canta o Zé do Pipo. " Na minha cama com ela", exalta a bombeira de Cascais, logo secundada pela menina do Neil Monteiro a lastimar-e por não saber como sair da praia "...com os marmelinhos quase de fora".
O sossego e a paisagem são violados por esta intrusão, estranha ao ecossistema. Tradição?! Não. A tradição não se cria num periodo temporal de 50 anos, data a partir da qual terão surgido estes diabólicos amplificadores instalados na casa do Senhor. Também este tipo de música de satanás é imberbe e não ficará para a história.
"Elas fazem falta, animam a malta, o mundo sem mulheres era melhor acabar..." canta esganiçado, ao ritmo de concertinas, um vocalista desconhecido. (música e letra muito distantes de "O que faz falta!" do Zeca).
Talvez venha breve uma nova determinação Papal terminando com esta tortura, dando descanso ao espírito dos abnegados minhotos e dos visitantes esporádicos e habituais desta maravilhosa região.
Parou o barulho!! Ufaaa. Finalmente. O que se escuta lá ao fundo, a aproximar-se? É um grupo de bombos a rufar ao passo de marcha. Acompanhados pelo ribombar de morteiros.
E retoma o ruído da música pimba a afogar todo o Vale do Lima: "Quero cheirar teu bacalhau, Maria..."
Pode ser que durante a semana a coisa acalme e seja possivel a concentração na literatura de férias ... 🙂
"...para quando chegar a casa, põe o bacalhau em brasa, Maria...pum, pum, pum "
🙈🙉🙊