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quinta-feira, 10 de março de 2022

Trilho panorâmico do Tejo


Foi inaugurado esta semana, renovado e com novos troços , o trilho panorâmico do Tejo entre Vila Nova da Barquinha e Constância.

São 10 km sempre a ombrear o mais caudaloso rio português, com início na Foz do rio Zêzere, com uma vista deslumbtante sobre Punhete, a vila poema com nome ancestral pouco poético, e término no parque da Barquinha. Para ser do contra, o percurso foi feito ao contrário. Transporte de carro até à estação de comboios da Barquinha com espaço para estacionamento de fazer inveja à sua congénere lisboeta. Foi nessa estação quase abandonada mas operacional, preparada com portas e janelas tapadas com cimento contra qualquer ação de vandalismo, que se iniciou o percurso.

Passagem pelo parque ribeirinho, término oficial do trilho, calcorreiam- se campos agrícolas, canaviais que nos abraçam em túneis sombrios, sobreirais que sustentam biodiversidade, zonas escarpadas para o rio cintilante, fontes carentes de água  e cais fluviais cada vez mais distantes das margens. A passagem junto ao castelo de Almourol, com os seus 850 anos de história,  a meia encosta, oferece vistas deslumbrantes, sempre diferentes consoante a direção do sol. O fraco caudal do rio transformou a ilha em península. O convento seiscentista de Nossa Senhora do Loreto, ruinas habitualmente visíveis à distância, constitui um ponto de passagem dos frequentadores do trilho. Edifício que, mesmo tendo sofrido uma terceira reconstrução, e sob proteção militar e etérea, não resistiu à violência lenta dos elementos e da erosão humana. 

O percurso continuou através do leito de cheia, na base da localidade de Praia do Ribatejo, ancestralmente conhecida pelos templários como Paio de Pelle, onde altas e bem equilibradas  chaminés de fábricas devolutas albergam ninhos de cegonhas curiosas com a passagem dos transeuntes. 

A chegada à Foz do Zêzere, pelas 11 horas desse dia 1 de março de 2022 , foi coroada com um concerto de sinos, sirenes e buzinas, em solidariedade para com o povo ucraniano. 

Percurso habitualmente solitário, depois da inauguração passou a registar uma maior utilização por todos os perfis de frequentadores: os passeantes domingueros, com as suas crianças ruidosas e cãezinhos pela trela, caminheiros de fim de semana, praticantes de jogging e até atletas de trail e coloridos ciclista BTT. Todos se saudavam quando se cruzavam: um cordial "bom dia", acompanhado de um sorriso, prática cada vez mais em desuso em meios urbanos. 

O percurso pedestre não é circular, o que levanta problemas logísticos no regresso. No entanto, se o passeio for bem planeado, aparecerá sempre um comboio que nos transporta de regresso ao ponto de partida numa viagem de relaxamento e de prazer.

O Presidente de Vila Nova da Barquinha, Fernando Freire, e os seus colaboradores,  estão de parabens. Com esta iniciativa abriu mais o espaço do seu concelho aos seus munícipes, cidadãos vizinhos e até visitantes de outras paragens. Resistiu a implementar passadiços faraónicos, construindo um trilho que evidência as coisas boas da região e aproveita caminhos já estabelecidos pelo calcar do tempo, aqui e ali reforçado com pequenas pontes de madeira, muito bem enquadradas, e singelas mas necessarias obras de sustentação de terras e corrimãos de segurança. 

Uma manhã de carnaval muito bem passada! 

Deixo um link para um excelente guia histórico e turístico do percurso, da autoria de Fernando Freire:

domingo, 4 de julho de 2021

Dia 2 - 3Jul2021 - sábado - Rubiães - Valença - 19km



Saída às 7horas de Rubiães, depois de um pequeno almoço bem guarnecido fornecido pelo Albergue. Grande parte dos alojados já tinha partido. Ficaram só para trás os peregrinos provenientes da Suíça e do Brasil. 

O percurso continua, sinuoso, bem delineado e marcado, transpondo linhas de água com recurso a obras romanas e medievais. E sempre com o apoio dos autóctones, simpático, por vezes rotineiro: "Bom Caminho". 
Primeira paragem : São Bento da Porta Aberta. Não a do Gerês. Mais um carimbo para a caderneta. E um café e um rissol de camarão (o café substituiu, por vergonha social, a malguinha de verde tinto 😁). 

Desde esse local, o percurso descendente segue pela encosta norte da serra minhota, em direção ao caudaloso rio Minho. O Caminho está muito bem traçado, gerido, sinalizado e possui troços ainda com o pavimento original, de granito, bem polido pelas solas dos intemporais caminhantes. 
Vegetação luxuriante, verdejante, que com a sua sombra cerrada e o chilrear da passarada, acompanha permanentemente os caminhantes. Neste cenário estamos à espera que, numa volta do caminho, surja um poderoso romano artilhado com o seu gládio e a armadura de couro. 
Já às portas de Valença passa por mim a caminhante suíça. Com a cadência que imprimia ao passo, certamente que não parou no café do rissol e muito menos saboreu o tinto verde, daquele que suja a malga e retarda o ritmo. 
Chegada a Valença, a 117km de Santiago. 
Ao longo de todo o percurso, muitos restaurantes oferecem e publicitam o menu do peregrino. Subentender-se que é uma opção mais económica, em detrimento da variedade de escolha, pode ser um engano. Devem os caminhantes ficar alerta: em Valença encontrei um menu do peregrino por 11 euros (opções de prato principal nada de especial), enquanto numa rua perpendicular e já fora da rota, um menu geral, rico e completo, podia ser degustado, numa magnífica esplanada, por um valor significativamente inferior. Pouco católico, aquele comerciante. 😄 
A estação de camionagem, onde me deveria informar dos horários de regresso a Ponte Lima, é um edifício fantasma, encerrado, devoluto, sem informação aos viajantes. Questionei um motorista do expresso de Santiago acabado de chegar. 
- Camioneta para Ponte de Lima? Pois, não sei. Talvez até nem haja hoje, que é sábado, e ainda por cima com a Covid... A informação na Internet era carente e  inconclusiva. O serviço de camionetas e  aquelas instalações não dão uma boa impressão a quam visita Valença. 
Mais uma vez o comboio venceu o autocarro, não para Ponte de Lima mas sim para Viana, onde a Lourdes me esperava. Passagem obrigatória no Natário, pelas suas maravilhosas bolas  (!!!!) e pelos seus deliciosos doces de gila. 
Consideremos este percurso, Ponte de Lima - Valença, com cerca de 37 km, um aperitivo para os restantes 120 km, totalmente em território espanhol, previstos para a última quinzena de agosto. Porque o caminho português de Santiago não tem significado se for totalmente efetuado em território espanhol. 
Até lá e buon camino!!

segunda-feira, 17 de maio de 2021

PR1 - arribas do Tejo

                                             

 - Senhores passageiros. Vai sair da linha número 2 o comboio regional com destino a Castelo Branco, com paragem  em todas as estações e apeadeiros.

Estação do Entroncamento. 7h45mn. Despida de passageiros devido à preguiça dominical e à pandemia, a composição inicia ruidosa e lentamente o seu percurso. desliza pela Linha da Beira Baixa, uma das mais cénicas de Portugal. O primeiro lanço, de Abrantes à estação da Covilhã, entrou ao serviço em 6 de setembro de 1891, tendo a linha sido concluída com a inauguração até à Guarda, em 11 de maio de 1893, há 128 anos portanto.

Acabámos de passar pela estação de Alvega-Ortiga. Relembro as recentes notícias nos pasquins regionais dando conta da proposta da autarquia ortiguense de mudança de nome para Ortiga-Mação, porquanto a ligação com Alvega, na outra margem, já se perdeu, com o termo da travessia por barco e a menor dependência comercial e social daquela povoação.

- Senhores passageiros: próxima paragem,  apeadeiro da barragem de Belver. Uma indicação personalizada dado ser o único passageiro visível no comboio. Saída pelo cais sul, com acesso direto às instalações da estação; o cais norte  é... a esplanada do restaurante da Lena. Uma ótima opção para caminhantes que se fiquem pela viagem de comboio... 😁

Antes de iniciar o percurso pedestre entrei  no estabelecimento. Balcão de mármore, montra com  Kinder Bueno e pastilhas Gorila.

- Olá bom dia. (10sec). Bom dia, está alguém?
- Já vai. Só um bocadinho, estou na cozinha. 

Depois de conversar com a D. Lena e com o filho fiquei a saber que o restaurante só funciona por marcações e tem como especialidade a lampreia (só na época dela). Estava chorosa a D Lena: fazia anos que o marido faleceu. Ficou combinado, numa próxima caminhada, um almocinho. Refeição completa a bom preço, com uma atençãozinha caso não peça fatura.

A pequena rota 1, PR1, arribas do Tejo, circular, desenvolve -se pelas duas margens do Tejo, nos concelhos de Mação e Gavião. Inicia-se na praia fluvial de Ortiga, local balnear e de pesca desportiva, com as margens tingidas de branco pela invasora Zantedeschia aethiopica, o jarro ou o copo-de-leite como nome comum, muito apreciados pelas tradicionais donas de casa dos anos 60 e 70.

O percurso da margem norte, ou direita, apresenta desníveis suaves, exceto na fase inicial em que no extremo da ascensão se pode apreciar o troço do rio que vai da barragem de Belver até ao castelo com o mesmo nome e as arribas para o Tejo, que dão o nome ao trilho. Vários quilómetros sem  ver vivalma e onde os sentidos se concentram na explosão de cores primaveris, cheiros e sons claros e cristalinos da passarada, insetos e rumorejar da folhagem.


A vereda acompanha várias estremas de zonas de caça que, através das respetivas placas sinalizadores, traçam o percurso dos serviços florestais al longo dos anos: DGF, DGRF, AFN, ICNF. 

A entrada em Belver faz-se pelo norte, o que permite visualizar uma perspetiva deslumbrante do altaneiro castelo. O trilho acompanha uma linha de água profunda e com vestígios de infraestruturas de aproveitamento hídrico.

Já na povoação constatou -se, através de um lacónico aviso colado no vidro da porta do centro de saúde, que este se encontra encerrada em virtude do Dr. Cabaço se ter reformado..

Com a passagem da centenária ponte rodoviária sobre o Tejo, que sustenta a E244, começa o desassossego gerado pelos passageiros de múltiplas camionetas de turismo que têm como único objetivo transporem os escassos quilómetros de passadiço até à praia fluvial do Alamal. Apesar de, do troço de madeira, se observar  uma paisagem fulgurante para Belver e o seu castelo, é  de evitar este local, pelo menos ao fim de semana.

O troço final entre o Alamal e a barragem de Belver, pela margem sul, é uma autêntica montanha russa, vertical e horizontal, onde praticamente todo o percurso se desenvolve através de um agradável túnel vegetal que acompanha o rio Tejo a várias altitudes. A luxuriante, diversa e intensa vegetação, embora ainda a recuperar de recente incêndio rural, nada fica a dever à Laurissilva (desculpem-me a comparação, os colegas fitosociólogos puristas).


Foram cerca de 5 horas, 16 km palmilhados com alguma dificuldade e esforço. perfeitamente  compensado pela bonita paisagem, pelo isolamento relaxante e pelo café e a conversa da D.Luisa.. 

Adquirido fôlego, energia e oxigénio para mais alguns dias de teletrabalho e de máscara obrigatória.



sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Good morning Vietnam

 

Abril de 1995. Recordo-me que passámos o 25 de Abril em Saigão, data também importante para o povo deste maravilhoso país. Permanecemos cerca de um mês principalmente no Vietname mas também na Tailândia.

Depois de muito pesquisar em livros (na altura a Internet ainda não estava massificada) lá conseguimos programar o percurso e encontrámos a agência de viagem que mais barato apresentava (na altura a viagem e os gastos ficaram em cerca de 1250 euros – 250 contos), curiosamente com sede num edifício contígua ao local onde trabalhava (DGF). Como não poderia deixar de ser, o guia de viagem LonelyPlanet foi mais uma vez crucial no planeamento e na execução.

O exotismo da região, o mito da guerra e o facto da Raquel estar nesse momento em transito profissional por este país, fez com que optássemos por esta viagem.

Éramos 4: a Lena, o João (na altura já casados) e o Rui, amigos de faculdade e de infância, alguns de nós.

E lá partimos em viagem para o fim-do-mundo, na nossa primeira incursão na Ásia profunda (já tínhamos estado, eu e o João, na parte asiática da Turquia, cerca de 8 anos antes).

Apanhámos o 747 da Thai em Madrid. O aeroporto de Barajas permite sonhar: contrariamente à Portela existem partidas para os quatro cantos do mundo. Após uma escala em Roma, lá seguimos em direção ao sol nascente. Chegámos a Bangkok de manhã (local) com um jetlag negativo fortíssimo. Viajar a esta velocidade para Este é sempre muito mais complicado.

Bangkok realça-se pela poluição, trânsito, templos budistas, cheiros intensos e pela pressão da população (muita, mas mesmo muito gente nas ruas). Ficámos num hotel razoável, com uma piscina que foi uma autêntica lufada de ar fresco naquela região com água até no ar.

Na Tailândia visitámos ainda o mercado flutuante, a algumas dezenas de quilómetros a Oeste de Bangkok, em direção da fronteira com a Birmânia/Myanmar. Pouco interesse, pese embora o exotismo.
Um misto de feira da ladra, de feira de Carcavelos e de Cais-do-Sodré foi a impressão com que ficámos de Patpong, no interior de Bangkok. Uma concentração de vendedores jamais vista, estabelecidos em lojas ou em simples bancas no meio da rua, faziam com que nos sentíssemos noutro planeta. Os bares de strip e de outros espetáculos ao vivo são uma autentica atração. Quem visitar este bairro, liberte-se dos tabus ocidentais e veja os espetáculos Go-GO que, a parte o especto emotivo que choca com as boas regras ocidentais, são autênticos deslumbramentos de cor, curiosidade e espanto.

Pessoal muito aberto e extrovertido. O Rui, durante vários anos, ainda se correspondeu com uma simpática tailandesa (e sem utilização de email ou outras novas tecnologias inexistentes na época. Puo e duro snail-mail).

Viagem curta, de avião, entre Bangkok e Hanoi. Num país a abrir-se ao exterior, as dificuldades de entrada foram muitas, como várias horas de espera na fronteira, carimbos, aberturas de malas e alguma arrogância dos elementos policiais. Mas cá foram tínhamos a Raquel e o Eric à nossa espera que, com a sua boa disposição e alegria afastaram as nuvens cinzentas que pairaram na chegada. E lá fomos para o centro Hanói, pela autoestrada, entre ciclistas que transportavam porcos, galinhas e outros animais, habitantes locais que utilizam a via como caminho privilegiado, e inversões de marcha e manobras pouco recomendáveis.
Embora já tivéssemos o itinerário mais ou menos programado, a receção da Raquel e do Eric, para além de reconfortante num país estranho e aparentemente hostil para o nosso grupo latino, ajudou-nos a readaptar o percursos e locais a visitar.

Hanoi é maravilhosamente estranha. Ainda com muitos vestígios da colonização francesa, a mistura arquitetónica e de hábitos é curioso. A salientar nesta cidade:
- Uma lindíssima praça no centro da cidade (junto ao teatro da marionetes aquáticas), com o seu lago, ilhas e arvoredo paisagisticamente bem enquadrado.
- Imperdível assistir ao espetáculo de marionetas aquáticas.

- O trânsito é intensíssimo. Atravessar uma rua torna-se hilariante. Sem passadeiras, a regra é básica: olhar para o outro lado e atravessar lentamente por forma a que os condutores (99% de bicicletas e motociclos) possa calcular mentalmente a nossa trajetória. NUNCA parar e arrancar, tentando fugir aos veículos.

- Comemos pernas de rãs pela primeira vez (pelo tamanho mais parecia ser membros inferiores de sapos).

Aconselhados pela Raquel, fomos testar as nossas costelas de navegadores para a Baía d’Along. Através de uma agência de viagens local, com o apoio de um guia Vietnamita extrovertido e simpático, um grupo pequeno de estrangeiros, onde nos incluímos, percorreram as muitas ilhas em formato de agulha que existem naquela zona do Mar da China Meridional. Dois dias a flutuar por aquelas águas calmas, dormindo e comando na embarcação. Especial menção à ilha de Cat Ba, já com alguma dimensão, onde visitámos uma floresta tropical, a povoação local em franca expansão urbanística e com infraestruturas urbanísticas a serem construídas com o apoio da então Comunidade Europeia (é estranho ver um placard de anúncio de obra, num lugar tão recôndito, com a estrelada bandeira europeia).

Tivemos aí o primeiro contacto com o cão como uma espécie para consumo doméstico, na verdadeira aceção da palavra: após os vermos em autênticas gaiolas, no mercado, junto aos galináceos e aos vegetais, no percurso de regresso ao barco, tivemos a possibilidade de assistir ao estripar de um desses simpáticos animais, à semelhança do que se fazia há alguns anos atrás com os cabritos nas festas tradicionais do interior português.

De regresso a Hanói, e após visitarmos algumas bonitas paisagens da sua periferia rural, avançámos no comboio da reunificação (Expresso da Reunificação) em direção ao centro e sul do país. Um compartimento com as célebres couchettes que se adaptou ao número de elementos do nosso grupo. Não me recordo quanto pagámos mas mesmo com a então necessária taxa para turistas (abolida em 2002), os cerca de 800 km de viagem não deve ter ultrapassado os 20 euros, incluindo alimentação (forneciam alimentação durante a viagem, tipo avião, mas aparentemente confecionada no próprio comboio). Vista maravilha da janela da nossa carruagem, com especial menção ao troço entre Hué e Da Nang, onde terminámos a viagem de comboio.


Através de conhecimentos de terceiros, conseguimos uma habitação familiar com alguns quartos no primeiro andar, com condições mínimas, mosquiteiros nas camas e junto à praia de Palm Beach (local de férias de dos soldados americanos em licença). Os donos da casa dominavam o francês, o que facilitou a comunicação.


Da Nang é uma cidade sem grande interesse, salvo a paisagem costeira. Hoi Na, uma pequena vila a poucos quilómetros a sul de Da Nang, possui um pequeno porto onde os portugueses à centenas de anos deixaram raízes.


Tivemos oportunidade de adquirir a um pescador algum camarão, o qual foi confecionado e servido pela sua família, na sua casa de terra batida junto à praia. A imagem que ficou foi a de quatro ocidentais a consumirem marisco à volta de uma mesa, a família do pescador sentada em nosso redor a observar alternadamente esta cena estranha (apesar da nossa insistência para se juntarem a nós) e a televisão próxima, . O som de fundo proveniente da televisão fez-nos voltar a cabeça e confirmar espantados que estava a ser emitida a telenovela brasileira Escrava Isaura.


Visitámos a cidade imperial de Hué, antiga capital do país. Relativamente bem conservada e com grande quantidade de turistas, particularmente nacionais.

Saímos de Da Nang em direção a Na Trang por via rodoviária, recorrendo a um mini-bus. Cidade turística, com uma praia fenomenal, deu-nos guarida por alguns dias. Restabelecemos as forças na praia e encontrámos um autóctone que conhecia algumas palavras de português, e as personalidades Álvaro Cunhal e um jogador de futebol muito conhecido na altura. O ananás cortado e servido perto do mar e as massagens ministradas em plena praia são ex-líbris neste local. Aproveitámos para uma nova incursão no mar quente do Vietname para visitar umas ilhas a alguns quilómetros da costa e fazer mergulho em apneia.


Já no término da viagem, avançámos para Saigão, denominada Ho Chi Min logo após o fim da guerra com os americanos, em memória do líder vietnamita. É uma cidade que não tem o encanto das do norte. Caótica, desordenada, poluída, o seu encanto não vai para além da carga mítica que a envolve. De salientar alguns museus e, junto à fronteira com o Camboja, os túneis de Cu Chi, local onde os vietcongs se furtavam ao exercito americano, em autenticas cidades subterrâneas.


Gastámos cerca de 24 horas a regressar ao aeroporto da Portela, partindo de Ho Chi Min e fazendo escala em Bangkok e Madrid.


Um país a visitar, certamente muito mais aberto ao turismo do que em 1995.




Ficha de viagem

Países: Tailândia, Vietname
Cidades/locais visitados: Bangkok, Mercado Flutuante, Hanoi, Hai Phong, Baia d'Along, ilha de Cat Ba, cidade imperial de Hue, Da Nang, Hoi An, Na Trang, ilha de Hon Tre, Ho Chi Minh-Saigão, túneis de Cu Chi.
Meios de transporte utilizados: Avião, Barco, Comboio, Miniautocarro
Data de início: Março de 1995
Data de Fim: Abril de 1995
Tempo de permanência: cerca de 1 mês
Mapa:

domingo, 9 de novembro de 2008

Escapadinha a Marrocos

 


 que nos temos de mentalizar quando visitamos um país do Magrebe (ou outros) é de que não podemos olhar os comportamentos dos visitados à luz dos valores ocidentais. Algo que automaticamente conotariamos como negativo, deve ser considerado simplesmente como DIFERENTE. O trânsito caótico e a difícil interacção entre as viaturas e os peões, por exemplo, pode ser um bom motivo para revivermos Lisboa dos anos 70 onde as passadeiras para transeuntes era coisa rara e tínhamos de fintar as viaturas para chegar inteiros ao outro lado da rua. Reviver a juventude.

Gozemos então o prazer que nos pode dar a visita este país maravilhoso que é Marrocos, despidos de preconceitos e de falsos orgulhos sociais.



Tudo começou com uma noticia de um novo voo da TAP para Casablanca: 65euros, ida, várias vezes por semana. Consultei a minha agência viagens "oficial" Logitravel (recomendo vivamente) e consegui um pacote por 233 euros (viagem, taxas, Hotel 4*, com meia pensão).

Aconselho o Hotel onde fiquei em Casablanca. Os preços são muito inferiores aos constantes no preçário do sítio, caso sejam contratualizados através de uma agência de viagens. Fica no centro e o serviço e razoável.

Casablanca é uma cidade muito pouco característica, com carência de pontos de interesse. Aconselho a mesquita Hassan II, acabada de construir no início dos anos 1990 e com um minarete de mais de 200 metros de altura. A localização junto ao mar, os tectos de abertura mecânica, e os trabalhos em madeira e em mármore são outros motivos para a visita. A visita guiada é cara para o que mostram: somente o salão principal da oração e algumas salas anexas (impressionante a sala de lavagens no piso inferior do salão principal de orações) e não se sobe ao minarete (12 euros).
Medina não tem um interesse por aí além: ruas mais largas que o costume e souk pouco característicos.

Quem está em Casablanca chega facilmente, através de comboio , à capital Rabat. Após uma hora de viagem, com saídas frequentes, chegamos a uma cidade mais cosmopolita e mais motivos de interesse. Aconselho a saída da estação e seguir a avenida principal em direcção a ocidente, passar a Medina, atravessar o cemitério e chegar ao mar. Regressar pela fortaleza/kashba junto ao rio (Oudayas) que separa Rabat da vizinha cidade de Salé.





Reservei um dia para Marraquexe. Cerca de 300 km distam esta cidade de Casablanca, os quais são facilmente calcorreados em comboios razoavelmente rápidos e confortáveis e a preços módicos (165 dh ida e volta, aproximadamente 15 euros). Uma cidade mais desafogada, com largas avenidas, prédios recentes, vegetação luxuriante e sempre aquela cor ocre que a caracteriza. A estação de comboios fica a cerca de 3-4km da praça central Djemaa El-Fna, mas o percurso faz-se bem a pé. Até porque é andando que se visitam estes maravilhosos locais. Nesta praça é essencial subir a uma das esplanadas que ficam nos terraços dos edifícios vizinhos e saborear à distância todo o rebuliço dos actores, encantadores de serpentes, domadores de macacos (esta actividade é de desincentivar), vendedores de fruta, acompanhado por um chá de menta (the a la menthe). Regressar à estação pelo interior da Medina, muito mais colorida e recheada que as de Casablanca e de Rabat.


Se tiveram de viajar de táxi, e para evitar dissabores no final, questionem sempre inicialmente do valor do serviço. Os "petit taxi" são curiosos. Normalmente viaturas ligeiras de baixa cilindrada (fiat punto e similares) transportam todos os que aparecem no percurso e que terão destinos semelhantes. Nunca percebi como é feita a divisão do pagamento do serviço. Andei num carro com mais de 600.000 quilómetros, praticamente sem faróis, a porta não fechava e o motorista parou durante a viagem para... meter combustível. Por vezes o automóvel ia abaixo, não sei se por problemas mecânicos se propositadamente para poupança de combustível

Outros aspectos interessantes e práticos a reter:



  • Apanhei o euro com a seguinte taxa de conversão para o Dirham: 1 euro - 0,09 dirham (aproximadamente um décimo, o que facilita as contas)

  • Utilizem ao máximo o comboio: barato, cómodo e quase sempre pontual.

  • Experimentem o restaurante Iamine junto ao mercado de Casablanca. Peixe frito e marisco (que se comem à mão), lambuzados em molhos diversos e uma salada mista e bebidas, por cerca de 9 euros.

  • As compras de material artesanal devem ser guardadas para Marraquexe, se lá tiverem oportunidade de ir. Experimentem o souk e nos arredores da praça El Fna.

  • Guias da LonelyPlanet sempre.

Interessante técnica para negociar aquisição de artesanato (esta situação aconteceu realmente):

Chegar, começar a olhar e esperar pelo primeiro contacto do vendedor:
Vendedor: Olá amigo. De onde vens? Portugal? Terra do Figo. Interessa-te a mala?
Respondo: É bonita. Quanto custa?
- 35 euros. É artesanato manual e muito boa qualidade. (reparem que a partir deste momento o vendedor abstem-se de apresentar propostas de preços, sendo o comprador o único a licitar)
- Valor muito elevado. Não tenho dinheiro suficiente para tal.
- Quanto ofereces?
- Bem. Segundo as minhas possibilidades não posso dar-te mais de 5 euros.
- 5 euros?? eeeeh. Isso não paga nem o material. Vê bem produto. Alta qualidade, etc. etc. Quanto ofereces mais?
- Dou-te 7,5 euros e não posso dar mais. Sabes que eu não sou francês. Eles têm muito dinheiros. Nós os portugueses não. Por isso não posso subir mais que isto.
- É muito pouco. Não posso aceitar.
- Pronto. É pena mas não posso mesmo dar mais. Obrigado. (e manifesto intenção de abandonar o local, iniciando a caminhada ao longo da rua do souk)
- Não. espera! Qual é a tua última proposta?
- 9 euros.
Ok. Toma. Mas não paga sequer o material e o trabalho é artesanal.
(tirei da carteira os dirhams correspondentes deixando visíveis os cartões bancários)
- Então não tens dinheiro mas tens muitos cartões, ehem? (rindo-se e mostrando os dentes todos cariados).
Separámo-nos com um aperto de mão, selando a amizade comercial entre Portugal e Marrocos.

O guia da LonelyPlanet de Marrocos tem um artigo muito interessante que dá indicações sobre a forma cordial e correcta de negociações deste tipo.


Ficha de viagem
País: Marrocos
Cidades/locais visitados: Casablanca, RabatMaraquexe
Meios de transporte utilizados: Avião, Comboio, Táxi
Data de início: 5 de Novembro 2008
Data de Fim: 8 de Novembro 2008
Tempo de permanência: 4 dias
Mapa: