quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Mão morta, Giela e o erro

Eh pá. É hoje, dia 17. Os Mão Morta vão aos Arcos. Bora ver.


E depois de jantar lá fomos.  Local do concerto: Paço de Giela. Original casa-torre de arquitetura mediaval civil, foi construída no século XIV, entretanto arruinada, reconstruída pelo município e transformada em museu e local de eventos culturais.


Chegada ao Paço. Tudo escuro. Acessos fechados.
- Parece que nos enganámos. Ou anularam  o espetáculo. Mas não. Verificada a publicidade na internet confirmou-se que não havia qualquer referência a eventual cancelamento. Mas afinal poderia ser na casa das artes dos Arcos de Valdevez.
Mas afinal onde fica isso? 22 horas tudo fechado. 
- Vamos ali ao posto da GNR perguntar.
Um guarda, solicito, com mais de 2 metros, lá explicou como chegaríamos.
Depois de um percurso acelerado, uma ponte, várias passadeiras e escadarias,  chegámos ao local do evento. Ou ao local que pensávamos ser.
Um cartaz digital esclareceu todas as dúvidas : afinal uma falta de atenção, quiçá princípio de demência, fez trocar o dia de 17 de julho por... 17 de agosto...

domingo, 4 de julho de 2021

Dia 2 - 3Jul2021 - sábado - Rubiães - Valença - 19km



Saída às 7horas de Rubiães, depois de um pequeno almoço bem guarnecido fornecido pelo Albergue. Grande parte dos alojados já tinha partido. Ficaram só para trás os peregrinos provenientes da Suíça e do Brasil. 

O percurso continua, sinuoso, bem delineado e marcado, transpondo linhas de água com recurso a obras romanas e medievais. E sempre com o apoio dos autóctones, simpático, por vezes rotineiro: "Bom Caminho". 
Primeira paragem : São Bento da Porta Aberta. Não a do Gerês. Mais um carimbo para a caderneta. E um café e um rissol de camarão (o café substituiu, por vergonha social, a malguinha de verde tinto 😁). 

Desde esse local, o percurso descendente segue pela encosta norte da serra minhota, em direção ao caudaloso rio Minho. O Caminho está muito bem traçado, gerido, sinalizado e possui troços ainda com o pavimento original, de granito, bem polido pelas solas dos intemporais caminhantes. 
Vegetação luxuriante, verdejante, que com a sua sombra cerrada e o chilrear da passarada, acompanha permanentemente os caminhantes. Neste cenário estamos à espera que, numa volta do caminho, surja um poderoso romano artilhado com o seu gládio e a armadura de couro. 
Já às portas de Valença passa por mim a caminhante suíça. Com a cadência que imprimia ao passo, certamente que não parou no café do rissol e muito menos saboreu o tinto verde, daquele que suja a malga e retarda o ritmo. 
Chegada a Valença, a 117km de Santiago. 
Ao longo de todo o percurso, muitos restaurantes oferecem e publicitam o menu do peregrino. Subentender-se que é uma opção mais económica, em detrimento da variedade de escolha, pode ser um engano. Devem os caminhantes ficar alerta: em Valença encontrei um menu do peregrino por 11 euros (opções de prato principal nada de especial), enquanto numa rua perpendicular e já fora da rota, um menu geral, rico e completo, podia ser degustado, numa magnífica esplanada, por um valor significativamente inferior. Pouco católico, aquele comerciante. 😄 
A estação de camionagem, onde me deveria informar dos horários de regresso a Ponte Lima, é um edifício fantasma, encerrado, devoluto, sem informação aos viajantes. Questionei um motorista do expresso de Santiago acabado de chegar. 
- Camioneta para Ponte de Lima? Pois, não sei. Talvez até nem haja hoje, que é sábado, e ainda por cima com a Covid... A informação na Internet era carente e  inconclusiva. O serviço de camionetas e  aquelas instalações não dão uma boa impressão a quam visita Valença. 
Mais uma vez o comboio venceu o autocarro, não para Ponte de Lima mas sim para Viana, onde a Lourdes me esperava. Passagem obrigatória no Natário, pelas suas maravilhosas bolas  (!!!!) e pelos seus deliciosos doces de gila. 
Consideremos este percurso, Ponte de Lima - Valença, com cerca de 37 km, um aperitivo para os restantes 120 km, totalmente em território espanhol, previstos para a última quinzena de agosto. Porque o caminho português de Santiago não tem significado se for totalmente efetuado em território espanhol. 
Até lá e buon camino!!

sábado, 3 de julho de 2021

Dia 1 - 2jul2021 - sexta - Ponte de Lima - Rubiães - 18km

Saída as 7h. O sol já despontou. Acordar com o pessoal da construção civil que se reunía no  largo da igreja de Santa Cruz do Lima. O autocarro da carreira, da auto viação Cura, apareceu 10mn depois da hora indicada. 2euros para fazer 15km, no velho autocarro escolar, que durante todo o percurso se queixou de dores  no motor, com o condutor a candidatar-se a piloto de F1. No final da viagem pela sinuosa N203 que, felizmente, já não acolhe carroças com duplas juntas de bois, chegámos a Ponte de Lima. 
Tempo fresco com um capacete de nevoeiro que impedia de vislumbrar as verdejantes paisagens minhotas.
8h da manhã. Início do troço do Caminho, bem delineado e assinalado, primeiro pelas zonas mais planas do Vale do Lima, e depois encosta acima. 
Na zona de Labruja ultrapassei uma velhota a caminho dos seus campos. 
-Bom dia. Há alguma café perto - questionei, para meter conversa mas também necessitado de cafeína.

-Buon dia Sinhor. Vai para Santiago?
- Sim, respondi sorridente.
- Sabe que também já la fui. Mas de camioneta. Isto na minha idade já não é para andar muito.
Café da aldeia. Casa Nunes. Daquelas lojas em que temos de perguntar o preço duas vezes pensansando que a simpática e prestável proprietária se tinha enganado a meu favor.
- Sabe, antes eram 50 peregrinos por dia. Agora 4 ou 5. Isto do bicho nunca mais pára, sobe e desce, vem e vai, efere a proprietária oferecendo mais um carimbo para a minha caderneta, justificando a adaptação comercial às circunstâncias.
Este café foi o último oásis: subida de mais de 300 metros em cerca se 4km, passando por zonas densamente florestadas com pinheiro, e zonas de grande densidade de invasoras, acácia e háquea. 
Chegada a Rubiães com pingos de chuva mais grossos, mas ainda sem necessidade de usar o poncho. 
Término no dia num albergue privado de Rubiães numa confraternização internacional: Portugal, Brasil, Espanha, Suíça e Alemanha. 
Giro, giro foi assistir ao jogo do europeu 2020 entre Espanha e Suíça, com a torcida feminina Suíça mais aguerrida que a espanhola. 😄 
Caminha às 20 horas. 🙃

domingo, 6 de junho de 2021

Andar pelo mar




A greve dos ferroviários impossibilitou a usufruição do PR Mação(#PR4MAC), conforme previsto. Na véspera a APP CP recusou-se a emitir o bilhete pelo motivo referido. 

Alternativa mais perto de casa, no sentido oposto e sem recurso ao comboio: o polje de Minde. Durante a época de maior pluviosidade, esta área, confinada pelo planalto de Santo António, Serra Daire, Mira Daire e Minde, fica alargada e constitui o denominado "mar de Minde" onde se pode observar uma curiosa ondulação. Nesta altura, às portas dos meses estivais, a vasta superfície de água dá lugar a lagoas dispersas, que sustentam a biodiversidade do ecossistema. A variedade florística é enorme, e evidente o predomínio do pilriteiro, uma árvore de pequeno/médio porte com folha caduca, ramos espinhosos, pequenas flores brancas da família das rosáceas e bagas comestíveis de um vermelho vivo semelhante a maçãs minúsculas. Constituem túneis frescos, de dezenas de metros, nos percursos efetuados. 

O polje está polvilhado de vários troços de trilhos (PR10-ACN e PR12-PMS) que podem ser utilizados alternadamente. Neste domingo estavam intensamente ocupados por, provavelmente, habitantes das povoações da zona, que os percorriam a correr, de bicicleta, a cavalo, de mota e a andar. Um autêntico circuito de manutenção da zona. 

Em pleno Parque Natural das Serra Daire e Candeeiros, este local tão peculiar e com paisagens díspares, merece uma visita, de Verão ou de Inverno . 

Uma boa oportunidade para dizer que andámos sobre o mar, quão Moisés. 

Cerca de 11km percorridos calmamente em 2 horas e 40 mn, com pausas frequentes para apreciar a paisagem, fotografar e beber um café. 1400 kcal gastas e que serão facilmente repostas com o valente cozido à portuguesa que nos espera ao almoço. 😜 













segunda-feira, 17 de maio de 2021

PR1 - arribas do Tejo

                                             

 - Senhores passageiros. Vai sair da linha número 2 o comboio regional com destino a Castelo Branco, com paragem  em todas as estações e apeadeiros.

Estação do Entroncamento. 7h45mn. Despida de passageiros devido à preguiça dominical e à pandemia, a composição inicia ruidosa e lentamente o seu percurso. desliza pela Linha da Beira Baixa, uma das mais cénicas de Portugal. O primeiro lanço, de Abrantes à estação da Covilhã, entrou ao serviço em 6 de setembro de 1891, tendo a linha sido concluída com a inauguração até à Guarda, em 11 de maio de 1893, há 128 anos portanto.

Acabámos de passar pela estação de Alvega-Ortiga. Relembro as recentes notícias nos pasquins regionais dando conta da proposta da autarquia ortiguense de mudança de nome para Ortiga-Mação, porquanto a ligação com Alvega, na outra margem, já se perdeu, com o termo da travessia por barco e a menor dependência comercial e social daquela povoação.

- Senhores passageiros: próxima paragem,  apeadeiro da barragem de Belver. Uma indicação personalizada dado ser o único passageiro visível no comboio. Saída pelo cais sul, com acesso direto às instalações da estação; o cais norte  é... a esplanada do restaurante da Lena. Uma ótima opção para caminhantes que se fiquem pela viagem de comboio... 😁

Antes de iniciar o percurso pedestre entrei  no estabelecimento. Balcão de mármore, montra com  Kinder Bueno e pastilhas Gorila.

- Olá bom dia. (10sec). Bom dia, está alguém?
- Já vai. Só um bocadinho, estou na cozinha. 

Depois de conversar com a D. Lena e com o filho fiquei a saber que o restaurante só funciona por marcações e tem como especialidade a lampreia (só na época dela). Estava chorosa a D Lena: fazia anos que o marido faleceu. Ficou combinado, numa próxima caminhada, um almocinho. Refeição completa a bom preço, com uma atençãozinha caso não peça fatura.

A pequena rota 1, PR1, arribas do Tejo, circular, desenvolve -se pelas duas margens do Tejo, nos concelhos de Mação e Gavião. Inicia-se na praia fluvial de Ortiga, local balnear e de pesca desportiva, com as margens tingidas de branco pela invasora Zantedeschia aethiopica, o jarro ou o copo-de-leite como nome comum, muito apreciados pelas tradicionais donas de casa dos anos 60 e 70.

O percurso da margem norte, ou direita, apresenta desníveis suaves, exceto na fase inicial em que no extremo da ascensão se pode apreciar o troço do rio que vai da barragem de Belver até ao castelo com o mesmo nome e as arribas para o Tejo, que dão o nome ao trilho. Vários quilómetros sem  ver vivalma e onde os sentidos se concentram na explosão de cores primaveris, cheiros e sons claros e cristalinos da passarada, insetos e rumorejar da folhagem.


A vereda acompanha várias estremas de zonas de caça que, através das respetivas placas sinalizadores, traçam o percurso dos serviços florestais al longo dos anos: DGF, DGRF, AFN, ICNF. 

A entrada em Belver faz-se pelo norte, o que permite visualizar uma perspetiva deslumbrante do altaneiro castelo. O trilho acompanha uma linha de água profunda e com vestígios de infraestruturas de aproveitamento hídrico.

Já na povoação constatou -se, através de um lacónico aviso colado no vidro da porta do centro de saúde, que este se encontra encerrada em virtude do Dr. Cabaço se ter reformado..

Com a passagem da centenária ponte rodoviária sobre o Tejo, que sustenta a E244, começa o desassossego gerado pelos passageiros de múltiplas camionetas de turismo que têm como único objetivo transporem os escassos quilómetros de passadiço até à praia fluvial do Alamal. Apesar de, do troço de madeira, se observar  uma paisagem fulgurante para Belver e o seu castelo, é  de evitar este local, pelo menos ao fim de semana.

O troço final entre o Alamal e a barragem de Belver, pela margem sul, é uma autêntica montanha russa, vertical e horizontal, onde praticamente todo o percurso se desenvolve através de um agradável túnel vegetal que acompanha o rio Tejo a várias altitudes. A luxuriante, diversa e intensa vegetação, embora ainda a recuperar de recente incêndio rural, nada fica a dever à Laurissilva (desculpem-me a comparação, os colegas fitosociólogos puristas).


Foram cerca de 5 horas, 16 km palmilhados com alguma dificuldade e esforço. perfeitamente  compensado pela bonita paisagem, pelo isolamento relaxante e pelo café e a conversa da D.Luisa.. 

Adquirido fôlego, energia e oxigénio para mais alguns dias de teletrabalho e de máscara obrigatória.



domingo, 14 de fevereiro de 2021

Asterix poliglota


 


Numa passagem rápida pela FNAC comprei o último álbum de Asterix.
Quando cheguei a casa e me preparei para o saborear reparei que na capa, antecedendo o  nome do novo autor Ferri, surgia a palavra TESTO e, antecipando o nome do desenhista Conrad, constava a palavra DEZEINHOS.
Primeira conclusão apressada, com um sorriso de escarnio: então não é que estes gajos  da editora publicaram  uma impressão com erros?
Numa passagem rápida pelos quadrinhos do interior do livro constato que o texto estava escrito numa língua que não o português. -- Talvez espanhol, presumi sem grandes raciocínios. Mais um engano!!
Quando inicio a leitura cuidada e atenta da obra, como aliás faço com todos os álbuns destes nossos heróis, verifiquei que na página que mostra o mapa da Gália com o enclave dos irredutível gauleses rodeado por guarnições romanas constava o seguinte texto:
"Stamos an 50 antes de Jasus Cristo. Toda a Gália sta adominada puls romanos... Toda? Nó! Ua aldé chena d'eirredutibles gouleses rejiste inda e siempre al ambasor. I la bida num ye fácele pa las guarniçones de lhegionairos romanos de ls acampamientos..."

Quando sair o próximo álbum original faço questão de comprar, para além da versão em Mirandês, também o livro no dialeto Minderico.    ☺☺


domingo, 3 de janeiro de 2021

Encontros ao longo do trilho de Jans - Nisa

     

- Olá, bom dia. É para visitar o Castelo?

- Quando quiser é só dizer. Eu abro-lhe a porta.   

Apercebi-me que o interlocutor, que surgiu do nada logo após ter estacionado o meu carro na praça central da aldeia, junto à velha mas imponente  fortaleza, era nem mais nem menos do que o funcionário do posto de turismo e também responsável pela abertura, fecho e manutenção do interior do Castelo.

Informando-o de qual era o meu  objetivo,  entregou-me diligentemente cartografia  do local e orientou no sentido do início do percurso pedestre de Amieira do Tejo.

Como qualquer bom percurso numa manhã fria de nevoeiro, o início tem de resvalar para um local onde sirvam café, neste caso a associação recreativa local. Após saborear a desejada bica, de forma mais apressada e decidida do que o vizinho  de balcão cujo copo de três era sorvido lentamente, iniciei o PR 1 - trilho de jans, circular, com cerca de 11 km, em direção ao rio Tejo. Primeiro ao longo de uma paisagem ondulada, remendada com pastagens luxuriantes, carvalhais e olivais, em direção ao banco de nevoeiro que se vislumbrava lá em baixo, no vale. Curiosamente, com o avançar do percurso e  da manhã, a neblina foi-se dissipando, qual mar vermelho aberto por Moisés, e deixava observar paisagens magníficas e feéricas. Percurso atapetado de musgo e herbáceas brilhantes de orvalho e uma constante presença invisível dos dedicados javalis que insistiam em interromper o referido tapete verde. Prados com gado ronceiro e curioso, mantido por pastores modernos, cavalgando veículos 4x4 mas não deixando de, diligentemente, oferecer o seu pequeno-almoço a um estranho que,  incompreensivelmente trocou o quente dos lençóis por um esforço matinal com temperaturas próximas do zero.

Até que, no início da abrupta descida para o rio, protegida por uma confortável e salvadora escadaria em madeira, surge, entre o nevoeiro esfarrapado, o maravilhoso e profundo vale do Tejo, com a barragem do Fratel unindo as suas margens, e a linha de comboio, rio abaixo e rio acima, de braço dado com o leito do rio mais extenso da península ibérica.

A chegada à margem do Tejo caudaloso, alimentado pela descarga de superfície da  barragem, permitiu conhecer pela primeira vez o extenso muro de sirga que parecia  concorrer com a linha da Beira Baixa, na outra margem. Não me recordo de alguma vez, nas longínquas infância e adolescência, ter ouvido falar destas estruturas de pedra, nalgumas zonas autênticas muralhas, que serviram em tempos idos para dar a força necessária aos barqueiros, através de cabos de sirga, para transporem as zonas mais caudalosas que o vento ou os remos não permitiam contrariar. E eram os animais ou a força humana, esticando esses cabos, que permitiam que as embarcações chegassem ao bom porto de Vila Velha de Ródão ou a terras de Castela.

E o percurso continuou, sempre acompanhado do rumorejar das águas revoltas,  dos saltos dos riachos em pequenas cascatas que se fundiam com o Tejo, do piar da diversificada e irreconhecível passarada e do voar atabalhoada das garças.

A passagem de uma locomotiva de manutenção pela linha da Beira Baixa, cujo maquinista acenou de forma simpática, quebrou momentaneamente a paz daquela tranquila paisagem rural.

Chegada à margem oposta de Barca da Amieira, local de transposição do curso de água com recurso a uma barca moderna e motorizada, verificou-se estar esta inoperacional devido aos mais de  430 m3/s golfados pela barragem. Barca da Amieira foi em tempos o local de passagem do corpo da rainha santa Isabel, falecida em Estremoz e sepultada na famosa igreja de Coimbra.

Na reta final do percurso, no remontar ao povoado de  Amieira do Tejo, o trilho passava inesperadamente por uma zona de acesso interdito, por ser privada. No entanto os  caminhantes, como afirmava a placa  informativa, eram bem-vindos e o seu acesso era feito por uma porta especialmente erguida para eles.

- Claro que sim. É sempre em frente, pelo caminho de terra batida - informou sorridente um trabalhador da quinta depois de lhe ter perguntado, timidamente, se podia passar.

Para trás ficava a deslumbrante paisagem pastoral do vale do Tejo.

Antes de entrar no troço alcatroado, surgiram dois pontos saltitantes que desciam encosta abaixo, por entre a vegetação esparsa e a transbordar de clorofila. Com a aproximação apercebi-me serem duas raposas, com suas causas farfalhudas, que, alegremente, à medida que avançavam, se desafiavam e mordiscavam.

Com o castelo ao fundo, entre as casas brancas e rasteiras da aldeia, ocupado em tempos pelo condestável D. Nuno, a estrada, murada, serpenteava pelo meio dos campos. Os condutores dos automóveis que, pontualmente, nela passavam, cumprimentavam. No percurso de regresso, os mesmos condutores insistiam na saudação cordial e calorosa.

Cerca de 4 horas depois, de chegada novamente ao largo do castelo, este já se encontrava fechado e o amável funcionário camarário, por ser a sua hora de almoço, já tinha interrompido o corte de vegetação no seu interior, sempre de olho no balcão do posto de turismo, também da sua responsabilidade.

Percurso terminado mas não concluído: em  abril será retomado e repetido, recorrendo então ao comboio até à estação de Barca da Amieira- Envendos e posterior passagem do concelho de Mação para o de Nisa utilizando o denominado transbordador. E vai haver certamente uma paragem, pela hora do almoço, na associação recreativa onde, com mais calma, poderemos certamente saborear uma bifana e um copo de três, quiçá acompanhado pelo tal habitante de Amieira do Tejo.

Estão convidados.


RN, 3jan2021