sábado, 28 de agosto de 2021

Caminho de Santiago - dia 4 - 23ago2021 - O Porriño - Arcade de Riba - 23, 2 km



Um dos troços mais duros. Não só pela orografia, com alguns desníveis que são um autêntico desafio à resistência dos articulações e dos músculos, mas também por ser um dos mais extensos, e a temperatura do ar ter atingindo os 37°C. O dia mais quente do percurso.



O planeamento  rigoroso da logística desta aventura é o garante que tudo correte pelo melhor. A reserva do alojamento tem de respeitar a distância adequada entre os locais de estada para que cada troço não vá muito para além ou aquém dos 20 km. Se determinada povoação já não tem alojamento (o mês de agosto é  um período de muita demanda), torna se necessário ajustar todas as outras para que esta regra seja respeitada. 

O plano foi também delineado  no sentido de iniciar a caminhada cerca das 6h30mn. Como em qualquer plano, a falha veio ao de cima: com a diferença de fuso horário entre Portugal e Espanha, o   nascer do sol, neste período do ano, ocorre quase às  8horas da manhã. Para evitar caminhar sem luz, o início da caminhada matinal é atrasado significativamente. Desvantagem: chegada  mais tarde ao destino. Vantagem: mais uma hora na  cama. 😁


Com o aumento da latitude o Caminho aproxima-se da recortada costa galega, impressa pelas peculiares Rias  Baixas. A paisagem florestal, ponteada por pequenas localidades alvas e com perfil luso,  cruza-se com planos de água cintilante e com imensas jangadas dispersas, produtoras de mexilhão. Segundo o turismo de Vigo, em cada viveiro podem criar-se até 200 toneladas de mexilhões, um produto com denominação de origem que demora cerca de 18 meses a estar pronto para consumo. Espanha é dos maiores produtores mundiais deste bivalve. Nenhum caminhante ou peregrino deve deixar de degustar este molúsculo, à espanhola, de tomatada ou de conserva, acompanhado com um alvarinho ou, porque o peregrino/caminhante é  teso, pode este ser substituído por uma Estrella Galicia. Se o não fizer não lhe será emitida a Compostela. 😁

Uma das zonas mais perigosas do Caminho de Santiago são os cerca de 400 metros antes de se chegar a Arcade de Riba, que se percorrem pela diminuta berma da movimentada estrada nacional 550. O movimento dos caminhantes efetua-se no mesmo sentido que as viaturas, que surgem rápida e inesperadamente por detrás.  Vale pela deslocação do ar, refrescante, provocada pelos  pesados e altos camiões TIR.




Chegada a Arcade de Riba e ao já reservado albergue, contiguo ao Caminho.

- Cómo se soletra tu nombre? No. No tengo ninguna reserva a este nombre. Depois de ter explicado que a reserva foi efetuada pelo Booking e ter mostrado o voucher de confirmação, o galego e proprietário, que fazia jus aos seus compatriotas que emigraram para Lisboa no início do século passado e que, mais tarde, ocuparam as tascas da capital, lá admitiu o erro patente no caderninho de merceeiro e entregou-me a merecida chave de acesso ao gavetão para armazenamento da mochila e restantes pertences. 

Albergue cheio, medias preventivas contra a COVID inexistentes. Qual certificado de vacinação, qual carapuça...






segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Caminho de Santiago - temporada 2, episódio 1 - dia 3 - 22ago2021 - Valença-O Porriño - 20,07 km

Preámbulo

Faz já cerca de 2 meses que começámos o caminho de Santiago com partida em  Ponte de Lima. Cerca de 40 km até à fronteira, em duas etapas, com pernoita em Rubiães, e uma dura passagem pela serra da Labruja. O curto fim de semana terminou em Valença, com a promessa de continuação do empreendimento para mais tarde. 

O relato do percurso consta neste blog.

Episodio 1

Com o objetivo de atingir Santiago de Compostela, mais cerca de 120 km, retomou-se hoje, 22 de Agosto de 2021, o Caminho, em Valença, com direção a O Porriño. Cerca de 20 km (efetivamente as duas dezenas é o valor médio de cada troço o que permirira atingir o objetivo final em 6 dias).

Uma boleia da Lourdes e da Sofia, desde Santa Cruz do Lima, permitiu o pontapé de saída. Chegamos a Valença cerca de 9 horas, num domingo que imprimia à urbe muita humidade, nevoeiro, frescura e enorme carência de pessoas.

Nota-se claramente que o percurso, talvez por estarmos em Agosto, apresenta uma maior densidade de utilizadores. Na sua fase inicial, na fronteira,  principalmente  portugueses e espanhóis. A passagem pela secular e férrea ponte internacional de Valença é sempre um ex-libris. Cerca de 150 anos antes da ponte 25 de Abril, já  apresentava um tabuleiro para comboio (o de cima) e outro para circulação rodoviária. E também pedestre, projectando os caminhantes de Santiago ao longo da extensa massa de água do rio Minho até à margem galega.

Tui. Uma cidade de pedra e com o seu núcleo histórico que nos permite viver uma experiência  da idade média, tão bem conservados que estão os arruamentos e edifícios.

Serpentiando pelo Caminho, inicialmente por ruas e ruelas e depois por veredas e trilhos de pé posto, procura-se uma distância razoável dos grupos numerosos e ruidosos de caminhantes. 

As pontes romanas, vergadas sob o peso da sua idade, transportavam os antigos viajantes  até à central  cidade de Artorga, que viu aumentada a sua importância, com a ajuda da Igreja medieval, precisamente por estar no caminho de Santiago. 

Nos idos anos de 1240, ao chegar à ponte das febres, São Telmo, em peregrinação a Santiago de Compostela, assolado por febres altas causadas pelo paludismo (doença endémica à época ), decide regressar a Tui onde morre, não sem antes  deixar a promessa de livrar de todos os pecados aquela vila. Os pecadores condenados ao cilício da malária só viram o seu expiamento cerca de 800 anos depois, com a erradicação da doença.  

A cerca de meio caminho, colocou-se um dilema ao caminante: optar pelo caminho mais curto mas mais fatigante (sem sombras, piso incómodo, passagem por uma zona industrial) ou pelo caminho mais longo (seguindo essencialmente pelo interior de manchas florestais, junto à regatos). Pelo constatado, esta variante espiritual foi a mais escolhida. 

Depois de uma caminhada fatigante e  abrasadora, com temperaturas superiores a 30 °C, e onde o alcatrão foi uma constante, a Pension Louro em O Porriño foi um autêntico oásis fresco e repousante. 

Porriña senhora madrinha, que isto não está a ser fácil... 🥴🥴


quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Douro abaixo


Se é certo que considerei inicialmente esta viagem como "de saloios" , sem dúvida  que o  balanço final foi positivo.

Um percurso de cerca de 7 horas onde a paisagem corre duplamente pelos lados da embarcação, declivosa, profunda, em socalcos, vinhas, sobreiros, belíssimos eucaliptos e pinheiros e outras vistosa plantas não identificadas à distância, distribuídas no espaço de uma forma que torna clara a dimensão dos grandes incêndios florestais. Onde somos engolidos pela eclusa mais alta da Europa numa barragem onde a EDP faz publicidade à empresa num ecrã gigante. Onde nos recordamos com nostalgia e tristeza da antiga ponte de Entre-os-rios.

E tudo isto acompanhado por um opiparo almoço, regado por um Douro de 2019 de caixão a cova. 🥱

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Mão morta, Giela e o erro

Eh pá. É hoje, dia 17. Os Mão Morta vão aos Arcos. Bora ver.


E depois de jantar lá fomos.  Local do concerto: Paço de Giela. Original casa-torre de arquitetura mediaval civil, foi construída no século XIV, entretanto arruinada, reconstruída pelo município e transformada em museu e local de eventos culturais.


Chegada ao Paço. Tudo escuro. Acessos fechados.
- Parece que nos enganámos. Ou anularam  o espetáculo. Mas não. Verificada a publicidade na internet confirmou-se que não havia qualquer referência a eventual cancelamento. Mas afinal poderia ser na casa das artes dos Arcos de Valdevez.
Mas afinal onde fica isso? 22 horas tudo fechado. 
- Vamos ali ao posto da GNR perguntar.
Um guarda, solicito, com mais de 2 metros, lá explicou como chegaríamos.
Depois de um percurso acelerado, uma ponte, várias passadeiras e escadarias,  chegámos ao local do evento. Ou ao local que pensávamos ser.
Um cartaz digital esclareceu todas as dúvidas : afinal uma falta de atenção, quiçá princípio de demência, fez trocar o dia de 17 de julho por... 17 de agosto...

domingo, 4 de julho de 2021

Dia 2 - 3Jul2021 - sábado - Rubiães - Valença - 19km



Saída às 7horas de Rubiães, depois de um pequeno almoço bem guarnecido fornecido pelo Albergue. Grande parte dos alojados já tinha partido. Ficaram só para trás os peregrinos provenientes da Suíça e do Brasil. 

O percurso continua, sinuoso, bem delineado e marcado, transpondo linhas de água com recurso a obras romanas e medievais. E sempre com o apoio dos autóctones, simpático, por vezes rotineiro: "Bom Caminho". 
Primeira paragem : São Bento da Porta Aberta. Não a do Gerês. Mais um carimbo para a caderneta. E um café e um rissol de camarão (o café substituiu, por vergonha social, a malguinha de verde tinto 😁). 

Desde esse local, o percurso descendente segue pela encosta norte da serra minhota, em direção ao caudaloso rio Minho. O Caminho está muito bem traçado, gerido, sinalizado e possui troços ainda com o pavimento original, de granito, bem polido pelas solas dos intemporais caminhantes. 
Vegetação luxuriante, verdejante, que com a sua sombra cerrada e o chilrear da passarada, acompanha permanentemente os caminhantes. Neste cenário estamos à espera que, numa volta do caminho, surja um poderoso romano artilhado com o seu gládio e a armadura de couro. 
Já às portas de Valença passa por mim a caminhante suíça. Com a cadência que imprimia ao passo, certamente que não parou no café do rissol e muito menos saboreu o tinto verde, daquele que suja a malga e retarda o ritmo. 
Chegada a Valença, a 117km de Santiago. 
Ao longo de todo o percurso, muitos restaurantes oferecem e publicitam o menu do peregrino. Subentender-se que é uma opção mais económica, em detrimento da variedade de escolha, pode ser um engano. Devem os caminhantes ficar alerta: em Valença encontrei um menu do peregrino por 11 euros (opções de prato principal nada de especial), enquanto numa rua perpendicular e já fora da rota, um menu geral, rico e completo, podia ser degustado, numa magnífica esplanada, por um valor significativamente inferior. Pouco católico, aquele comerciante. 😄 
A estação de camionagem, onde me deveria informar dos horários de regresso a Ponte Lima, é um edifício fantasma, encerrado, devoluto, sem informação aos viajantes. Questionei um motorista do expresso de Santiago acabado de chegar. 
- Camioneta para Ponte de Lima? Pois, não sei. Talvez até nem haja hoje, que é sábado, e ainda por cima com a Covid... A informação na Internet era carente e  inconclusiva. O serviço de camionetas e  aquelas instalações não dão uma boa impressão a quam visita Valença. 
Mais uma vez o comboio venceu o autocarro, não para Ponte de Lima mas sim para Viana, onde a Lourdes me esperava. Passagem obrigatória no Natário, pelas suas maravilhosas bolas  (!!!!) e pelos seus deliciosos doces de gila. 
Consideremos este percurso, Ponte de Lima - Valença, com cerca de 37 km, um aperitivo para os restantes 120 km, totalmente em território espanhol, previstos para a última quinzena de agosto. Porque o caminho português de Santiago não tem significado se for totalmente efetuado em território espanhol. 
Até lá e buon camino!!

sábado, 3 de julho de 2021

Dia 1 - 2jul2021 - sexta - Ponte de Lima - Rubiães - 18km

Saída as 7h. O sol já despontou. Acordar com o pessoal da construção civil que se reunía no  largo da igreja de Santa Cruz do Lima. O autocarro da carreira, da auto viação Cura, apareceu 10mn depois da hora indicada. 2euros para fazer 15km, no velho autocarro escolar, que durante todo o percurso se queixou de dores  no motor, com o condutor a candidatar-se a piloto de F1. No final da viagem pela sinuosa N203 que, felizmente, já não acolhe carroças com duplas juntas de bois, chegámos a Ponte de Lima. 
Tempo fresco com um capacete de nevoeiro que impedia de vislumbrar as verdejantes paisagens minhotas.
8h da manhã. Início do troço do Caminho, bem delineado e assinalado, primeiro pelas zonas mais planas do Vale do Lima, e depois encosta acima. 
Na zona de Labruja ultrapassei uma velhota a caminho dos seus campos. 
-Bom dia. Há alguma café perto - questionei, para meter conversa mas também necessitado de cafeína.

-Buon dia Sinhor. Vai para Santiago?
- Sim, respondi sorridente.
- Sabe que também já la fui. Mas de camioneta. Isto na minha idade já não é para andar muito.
Café da aldeia. Casa Nunes. Daquelas lojas em que temos de perguntar o preço duas vezes pensansando que a simpática e prestável proprietária se tinha enganado a meu favor.
- Sabe, antes eram 50 peregrinos por dia. Agora 4 ou 5. Isto do bicho nunca mais pára, sobe e desce, vem e vai, efere a proprietária oferecendo mais um carimbo para a minha caderneta, justificando a adaptação comercial às circunstâncias.
Este café foi o último oásis: subida de mais de 300 metros em cerca se 4km, passando por zonas densamente florestadas com pinheiro, e zonas de grande densidade de invasoras, acácia e háquea. 
Chegada a Rubiães com pingos de chuva mais grossos, mas ainda sem necessidade de usar o poncho. 
Término no dia num albergue privado de Rubiães numa confraternização internacional: Portugal, Brasil, Espanha, Suíça e Alemanha. 
Giro, giro foi assistir ao jogo do europeu 2020 entre Espanha e Suíça, com a torcida feminina Suíça mais aguerrida que a espanhola. 😄 
Caminha às 20 horas. 🙃

domingo, 6 de junho de 2021

Andar pelo mar




A greve dos ferroviários impossibilitou a usufruição do PR Mação(#PR4MAC), conforme previsto. Na véspera a APP CP recusou-se a emitir o bilhete pelo motivo referido. 

Alternativa mais perto de casa, no sentido oposto e sem recurso ao comboio: o polje de Minde. Durante a época de maior pluviosidade, esta área, confinada pelo planalto de Santo António, Serra Daire, Mira Daire e Minde, fica alargada e constitui o denominado "mar de Minde" onde se pode observar uma curiosa ondulação. Nesta altura, às portas dos meses estivais, a vasta superfície de água dá lugar a lagoas dispersas, que sustentam a biodiversidade do ecossistema. A variedade florística é enorme, e evidente o predomínio do pilriteiro, uma árvore de pequeno/médio porte com folha caduca, ramos espinhosos, pequenas flores brancas da família das rosáceas e bagas comestíveis de um vermelho vivo semelhante a maçãs minúsculas. Constituem túneis frescos, de dezenas de metros, nos percursos efetuados. 

O polje está polvilhado de vários troços de trilhos (PR10-ACN e PR12-PMS) que podem ser utilizados alternadamente. Neste domingo estavam intensamente ocupados por, provavelmente, habitantes das povoações da zona, que os percorriam a correr, de bicicleta, a cavalo, de mota e a andar. Um autêntico circuito de manutenção da zona. 

Em pleno Parque Natural das Serra Daire e Candeeiros, este local tão peculiar e com paisagens díspares, merece uma visita, de Verão ou de Inverno . 

Uma boa oportunidade para dizer que andámos sobre o mar, quão Moisés. 

Cerca de 11km percorridos calmamente em 2 horas e 40 mn, com pausas frequentes para apreciar a paisagem, fotografar e beber um café. 1400 kcal gastas e que serão facilmente repostas com o valente cozido à portuguesa que nos espera ao almoço. 😜