Lembro-me que as reações mais marcantes durante a visita aos campos de concentração de Aushwitz-Birknau, há já 25 anos, foram a angústia e a incompreensão. Como foi possível tanta frieza e desprezo pela vida humana, concentrados em espaços exíguos que tornavam a dimensão daquele inferno ainda maior?
Realizámos o exato percurso que os prisioneiros faziam pelos alegados chuveiros para desinfeção, que na realidade eram câmaras de gaz, e que terminavam nos fornos crematórios, alinhados em bateria, prontos a consumir carne humana ainda quente. Todos nós que ficamos nervosos com insignificantes idas ao dentista ou a frequentar um exame de faculdade, não conseguimos sequer imaginar o que passaria pela cabeça dos condenados a este martírio. Velhos, jovens, crianças, humilhados e torturados, gaseados e transformados em cinza pelo simples facto de possuírem uma crença religiosa diferente, por serem ciganos, soviéticos, fracos para o trabalho físico, homossexuais ou por não apresentarem traços arianos puros.Ontem regressei aquele local. Com mais duas décadas de calejamento pela idade e o reconhecimento prévio da zona, levaram-me a pensar que seria uma simples visita a um museu, agora na companhia da família. Enganei-me. A angústia, a incompreensão, o enjoo regressaram. E enquanto tal acontecer aos mais de 2 milhões de visitantes anuais deste campo de extermínio, estaremos a contribuir para que holocaustos semelhantes não voltem a ocorrer.
RN, 9abr2018
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