domingo, 30 de junho de 2019

A viagem da vida

 E aqui estás tu! 21 anos depois de nos teres sido apresentada num consultório médico: um pequeno feijão num canto claro da ecografia. 

Olhando para trás, passam num relâmpago os  momentos marcantes da tua  vida: o nascimento sofrido em  Abrantes, com vista para o Tejo; a primeira saída á rua, também ligada ao Tejo,  no Parque da Barquinha, as palmadas que levavas da tua irmã,  ciumenta por ter sido destronada no reinado de filha única. Foste a áhbuú, onomatopeia das tuas  manifestações de carinho. Passam as imagens de ti, empoleirada em estátua de um cervo em pleno Picos da Europa,  tomando banho  nas águas gélidas do Lima e no caldo do Algarve ou sul de Espanha, e mascarada de árabe no deck de um cruzeiro algures  na costa africana.

E surgiu a independência com a ajuda do humanista Erasmus. As terras frias polacas contrastaram com a costa amena do adriático, a quente vodka do bisonte com a fresca cerveja de Praga. Pouco estudo, muito convívio e boa-vida, que te ajudaram a formar como melhor mulher.

E aqui estás tu! 21 anos depois, formada em Fisioterapia, pronta a torcer pernas, esticar costas, mitigar dores,  singrar na vida e apoiares a família e os futuros pacientes. 

Empurramos-te pela falésia porque já consegues voar.




domingo, 9 de junho de 2019

Passeio ripícola

 Ecopista do Lima e do Vez. Percursos envolvidos em paisagens fascinantes, a água corrente sempre a acompanhar e o chilrear da passarada a substituir o Spotify. 14km, 3h, Jolda - Arcos de Valdevez.





sexta-feira, 19 de abril de 2019

Highlands - Escócia

 Nos confins de Inglaterra, perto do território dos Pictos, este fantástico pequeno castelo debruça-se sobre a ilha de Holy e deleita-se com a maresia do mar do Norte.



Vergado ao peso histórico de Edimburgo. 

#edinburgh #edimburgo #elefante #elephant #princesstreetgardens #tree



Após alguns quilómetros de subida, atinge-se o cume de uma montanha, antigo vulcão sobranceiro a Edimburgo, com vista soberba sobre a cidade e a baía.

#edimburgh #arthursseatlookout



Fim de vida e do dia... Sterling castle




Por terras de Wallace, também com problemas climáticos (sem precipitação há pelo menos 5 dias... 😄). Rivera Ness





Encontro social escocês.  Lock Ness, Fort Augustus 

#lochness #fortaugustus #lago #lac #trees



As belas, coloridas e recortadas paisagens da ilha de Skye. 

#skyeisland #landscape #scotland




Um verdadeiro conto de fadas, castelos, cavaleiros e princesas. Escócia!!! 🏴󠁧󠁢󠁳󠁣󠁴󠁿 Eilean Donan  Castle

#eilandonancastle #scotland #skyeisland



segunda-feira, 9 de abril de 2018

De visita a Auchwktz - Birknau

Lembro-me que as reações mais marcantes durante a visita aos campos de concentração de Aushwitz-Birknau,  há já 25 anos, foram a angústia e a incompreensão. Como foi possível tanta frieza e desprezo pela vida humana, concentrados em espaços exíguos  que tornavam a dimensão daquele inferno ainda maior?


Realizámos  o exato percurso que os prisioneiros faziam pelos alegados chuveiros para desinfeção, que na realidade eram câmaras de gaz, e que terminavam nos fornos crematórios, alinhados em bateria, prontos a consumir carne humana ainda quente. Todos nós  que ficamos nervosos com insignificantes   idas ao dentista ou a frequentar um exame de faculdade, não conseguimos sequer imaginar o que passaria pela cabeça dos condenados a este martírio. Velhos, jovens, crianças, humilhados e torturados, gaseados e transformados em cinza pelo simples facto de possuírem uma crença religiosa diferente, por serem ciganos, soviéticos, fracos para o trabalho físico, homossexuais ou por não apresentarem traços arianos puros.

Ontem regressei aquele local. Com mais duas décadas de calejamento pela idade e o reconhecimento prévio  da zona, levaram-me a pensar que seria uma simples visita a um museu, agora na companhia da família. Enganei-me. A angústia, a incompreensão, o enjoo regressaram. E enquanto tal acontecer aos mais de 2 milhões de visitantes anuais  deste campo de extermínio, estaremos a contribuir para que holocaustos semelhantes não voltem a ocorrer.

Forgive but not forget, como alguém  afirmou. É certo que não nos devemos esquecer, para evitar que aconteça de novo. Duvido no entanto que os já poucos sobreviventes consigam perdoar aos carrascos que foram culpados por tamanho genocídio.

RN, 9abr2018









sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Mar Português

 



Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!


Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma nao é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu.


Fernando Pessoa


sábado, 22 de abril de 2017

Crónicas de vacances II - Minho

Partimos para o Minho no inverno frio de 1989 transportando a natural e inocente arrogância  dos recém licenciados. Tínhamos como missão o levantamento de necessidades em infraestruturas, no âmbito agrícola e florestal, contactando para isso com autarcas, agricultores e dinamizadores locais do mundo rural.

O primeiro encontro foi com o ti Amorim, agricultor do vale do Lima, que nos recebeu pelas 8 da manhã na sua escura adega, com mesa posta com um delicioso presunto e um jarro com verde tinto, cepa americana, daquele que tinge a malga. A entrevista decorreu normalmente e, após cobarde desculpa para não bebermos àquela hora da manhã, o sr. Amorim deseja-nos "continuação de bom trabalho, senhores engenheiros, e cuidado com as curvas e com os 220. Sem dar o braço a torcer por não termos entendido o comentário, despedimo-nos, ainda com o sabor intenso do fumeiro.

Os seis meses do trabalho decorreram normalmente, aumentando os conhecimentos e diminuindo a tal arrogância. Visitamos os pouco conhecidos socalcos agrícolas do Sistelo,  as brandas e inverneiras, satisfizemos a pituitária e as glândulas salivares com bacalhau à minhota, rojões e sarrabulho, flirtamos com doces minhotas e conhecemos gentes que ainda hoje são importantes nas nossas vidas.

E quando do regresso não resistimos e questionamos o nosso colega minhoto: ó Vítor, diz-nos lá o que são os 220? Com um sorriso complacente tipo "estes-mouros-não-conhecem-o-verdadeiro-Portugal", explicou-nos que eram as comuns  juntas de bois que circulavam pelas perigosas estradas do vale do Lima: cada boi vale 110 contos, e a batida na carroça, por detrás, provoca o estrangulamento dos animais pela pressão efetuada pela canga. Uma situação aceitável num país ainda sofrendo do atraso provocado pelos 48 anos de obscurantismo e onde o sofrimento de alguns animais não apagava a vergonha de mais de 3000 mortos anuais nas estradas portuguesas.

Agora, de regresso à região, confirmo que a arrogância e a cobardia alcoólica desapareceram. ;-)

RN, 22abr2017






Cópias em Copenhaga

 



50 anos depois, a Sofia substituiu a Avó  na fotografia. 😊


RN, 22abr2017