quarta-feira, 19 de agosto de 2020

O périplo raiano

 Depois de centenas de passagens pela A23 e na EN paralela, e olhar à distância, cobiçoso, para o monte monolítico, decidimos hoje inspecioná-lo. A terra usufruída pelo Zeca Afonso e pelo  Fernando Namora, que se estende desde a atual povoação ao castelo altaneiro, algumas boas centenas de metros  acima, vale mesmo a pena a visita, agora com turistas qb e que não  causam nódoa na imaculada paisagem.

Visitem Monsanto, o de Idanha. 

E a peregrinação continua, ao longo da rota dos castelo, cruzada por vezes com a rota da gastronomia. 
Penamacor, Sabugal, Castelo Bom,  Castelo Melhor, Almeida, FC Rodrigo, Freixo ES, Mogadouro e Miranda, enchidos, cozido, posta, bolo de cereja, queijo de ovelha. Que grandes e opíparas rotas.

Aqui vai uma fotografia da torre de menagem de Mogadouro. Das iguarias não tenho prova fotográfica, mas quando vos encontrar, a prova material será evidente. 😏


Episódio III - na senda das rotas, agora dos Miradouros e dos Castro, mas sempre, sempre, cruzada com a rota gastronómica. 

Miranda do Douro. Uma cidade ocupada por turistas espanhóis, embora, às vezes, ficamos sem saber se os vizinhos da mesa do lado estão a falar castelhano ou mirandês:

"Oulá Buonos dies. Quiero dues postas cun patata i berça. Para buber, ua malga  de bino carrascon."

Miranda do Douro está confinada pelos rios Fresno e Douro, sendo este uma fronteira física e abrupta com Espanha e que   colaborou com os nossos reis na delimitação política de Portugal.
Cheguei pela primeira vez a esta cidade há cerca de 20 anos, via aérea, e a impressão mantém-se: calma, rústica, natural e histórica. 
Há cerca de 300 anos, pouco depois do  que afetou Lisboa, Miranda sofreu o seu próprio terramoto. Durante a guerra dos 7 anos, o paiol explodiu, a cidade foi destruída e pereceram mais de 400 pessoas, o que na altura corresponderia a uma percentagem muito significativa da sua população . A sua importância política e religiosa perdeu-se, a ganho de Bragança. 
Apesar destas querelas com os espanhóis e seus aliados, a cidade está em convivência permanente com Espanha e o rio Douro. 
E como dizia a colaboradora da Estação Biológica Internacional do Douro: o meu Pai é português, de Miranda, a minha Mãe espanhola, e eu sou filha do rio. 

Aviso aos potenciais amigos do alheio : apesar de estar de férias, tenho gente em casa e, quando não tenho, o alarme está ligado .. 🤨









quarta-feira, 10 de junho de 2020

Ecovia do Vez

 Desta vez foi. Sem desculpa de mau tempo,  até porque a previsão era favorável, lá estávamos a caminho de Sistelo para iniciar pelo fim a ecovia do Vez. Mais de 20 km entre Sistelo e Arcos de Valdevez.

Pelas 11h a minha Presidente do Conselho deixou-me na aldeia, que nada ficava a dever a um dia 13 de maio em Fátima: engarrafamentos, grande densidade de visitantes, muita cor e agitação. 

E lá se iniciou o percurso serpenteante, ao longo do rio Vez, primeiro no troco de montante, mais cavado e com maiores declives, depois plano mas sem perder o ruído borbulhante da água que envolve e encharca a vegetação e os grandes barrocos polidos. 

Visitantes de todos os tipos percorrem o percurso bem sinalizado: os musculados e habituados a longas caminhadas por locais inóspitos e os autóctones e saloios, onde eu me incluía, que vão calcorrear os passadiços porque alguém lhes disse que valia a pena.

Foram 5 horas de intenso cansaço, facilmente compensado pelo prazer obtido das paisagens, da vegetação luxuriante e bem adaptada e animais mais ou menos selvagem. 


O crocitar da águia foi brutalmente interrompido por um grito de uma mulher, também passadiceira que dizia para o marido: óh carago, ainda falta muito para chegar ao Sistélo? As mines estão-se a acabar e já me doem os joanetes. 

Valha-me nossa Senhora, neste dia de Portugal.











quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

O Grão-Ducado

 Um país onde o ordenado mínimo se aproxima dos 2000 euros, uma refeição num restaurante barato ultrapassa os 17 euros e um kilo de frango 12 euros, tem bilhetes diários para os transportes públicos de todo o Grão-Ducado a 3,2 euros.

 E muito em breve passará a ser único no mundo: transportes públicos grátis para todos, exceto para as castas superiores que pretendam viajar em 1° classe, longe do suor do povo.




domingo, 30 de junho de 2019

A viagem da vida

 E aqui estás tu! 21 anos depois de nos teres sido apresentada num consultório médico: um pequeno feijão num canto claro da ecografia. 

Olhando para trás, passam num relâmpago os  momentos marcantes da tua  vida: o nascimento sofrido em  Abrantes, com vista para o Tejo; a primeira saída á rua, também ligada ao Tejo,  no Parque da Barquinha, as palmadas que levavas da tua irmã,  ciumenta por ter sido destronada no reinado de filha única. Foste a áhbuú, onomatopeia das tuas  manifestações de carinho. Passam as imagens de ti, empoleirada em estátua de um cervo em pleno Picos da Europa,  tomando banho  nas águas gélidas do Lima e no caldo do Algarve ou sul de Espanha, e mascarada de árabe no deck de um cruzeiro algures  na costa africana.

E surgiu a independência com a ajuda do humanista Erasmus. As terras frias polacas contrastaram com a costa amena do adriático, a quente vodka do bisonte com a fresca cerveja de Praga. Pouco estudo, muito convívio e boa-vida, que te ajudaram a formar como melhor mulher.

E aqui estás tu! 21 anos depois, formada em Fisioterapia, pronta a torcer pernas, esticar costas, mitigar dores,  singrar na vida e apoiares a família e os futuros pacientes. 

Empurramos-te pela falésia porque já consegues voar.




domingo, 9 de junho de 2019

Passeio ripícola

 Ecopista do Lima e do Vez. Percursos envolvidos em paisagens fascinantes, a água corrente sempre a acompanhar e o chilrear da passarada a substituir o Spotify. 14km, 3h, Jolda - Arcos de Valdevez.





sexta-feira, 19 de abril de 2019

Highlands - Escócia

 Nos confins de Inglaterra, perto do território dos Pictos, este fantástico pequeno castelo debruça-se sobre a ilha de Holy e deleita-se com a maresia do mar do Norte.



Vergado ao peso histórico de Edimburgo. 

#edinburgh #edimburgo #elefante #elephant #princesstreetgardens #tree



Após alguns quilómetros de subida, atinge-se o cume de uma montanha, antigo vulcão sobranceiro a Edimburgo, com vista soberba sobre a cidade e a baía.

#edimburgh #arthursseatlookout



Fim de vida e do dia... Sterling castle




Por terras de Wallace, também com problemas climáticos (sem precipitação há pelo menos 5 dias... 😄). Rivera Ness





Encontro social escocês.  Lock Ness, Fort Augustus 

#lochness #fortaugustus #lago #lac #trees



As belas, coloridas e recortadas paisagens da ilha de Skye. 

#skyeisland #landscape #scotland




Um verdadeiro conto de fadas, castelos, cavaleiros e princesas. Escócia!!! 🏴󠁧󠁢󠁳󠁣󠁴󠁿 Eilean Donan  Castle

#eilandonancastle #scotland #skyeisland



segunda-feira, 9 de abril de 2018

De visita a Auchwktz - Birknau

Lembro-me que as reações mais marcantes durante a visita aos campos de concentração de Aushwitz-Birknau,  há já 25 anos, foram a angústia e a incompreensão. Como foi possível tanta frieza e desprezo pela vida humana, concentrados em espaços exíguos  que tornavam a dimensão daquele inferno ainda maior?


Realizámos  o exato percurso que os prisioneiros faziam pelos alegados chuveiros para desinfeção, que na realidade eram câmaras de gaz, e que terminavam nos fornos crematórios, alinhados em bateria, prontos a consumir carne humana ainda quente. Todos nós  que ficamos nervosos com insignificantes   idas ao dentista ou a frequentar um exame de faculdade, não conseguimos sequer imaginar o que passaria pela cabeça dos condenados a este martírio. Velhos, jovens, crianças, humilhados e torturados, gaseados e transformados em cinza pelo simples facto de possuírem uma crença religiosa diferente, por serem ciganos, soviéticos, fracos para o trabalho físico, homossexuais ou por não apresentarem traços arianos puros.

Ontem regressei aquele local. Com mais duas décadas de calejamento pela idade e o reconhecimento prévio  da zona, levaram-me a pensar que seria uma simples visita a um museu, agora na companhia da família. Enganei-me. A angústia, a incompreensão, o enjoo regressaram. E enquanto tal acontecer aos mais de 2 milhões de visitantes anuais  deste campo de extermínio, estaremos a contribuir para que holocaustos semelhantes não voltem a ocorrer.

Forgive but not forget, como alguém  afirmou. É certo que não nos devemos esquecer, para evitar que aconteça de novo. Duvido no entanto que os já poucos sobreviventes consigam perdoar aos carrascos que foram culpados por tamanho genocídio.

RN, 9abr2018