quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Praia de Viñó e vizinhas


A menos de 1 hora de Portugal, o extenso trio de cerca de 2 km das praias da Barra, Vinó e Nerga, é uma boa opção para um dia de verão bem passado. Individualizadas por separadores naturais de rocha, distinguem-se por areia branca e fina, águas transparentes pancromáticas e uma fulgurante vista sobre a costa de Vigo e as ilhas Ciès.

Localizam-se ainda na ria de Vigo e separa-as do mar um promontório com farol, o cabo Home. (daí o nome de Barra).

A praia da Barra é especialmente vocacionada para naturistas, embora a separação não seja clara: há uma maior percentagem de nudistas nesta praia, mas também, em menor quantidade, nas restantes. Tudo muito natural e descomplexado, como deve ser, na presença de famílias e crianças.

Existem alguns pequenos parques de estacionamento perto das praias, sendo o maior e mais acessível o de Nerga.

Todas as praias têm "chiringuitos", pequenos bares de praia, alguns abarracados, que servem bebidas e refeições ligeiras.

Pelo menos a praia de Nerga tem bandeira azul.

Estivemos lá em agosto de 2024, num dia de semana e escolhemos a praia de Vinó, com pinhal bravo muito perto da areia, com árvores de grande dimensão, que oferecem uma frondosa e  reconfortante sombra. A área integra zona especial de conservação - ZEC, da rede natura 2000. Optámos por um parque de estacionamento mais junto á praia, num terreno privado, coberto de vegetação rasteira e com muita sombra. Valeu o dispêndio de 3,5 euros.

Há possiblidade de se realizarem passeios pedestres, por sendas que cortam florestas, mato e rochas, alguns junto á linha de água.

Valeu a pena. Grande extensão de areia branca, águas transparentes e calmas, abrigadas do vento norte e com temperatura que faz inveja às praias do norte de Portugal.

https://maps.app.goo.gl/ntDs4RYSUvfzMLjS9 




sábado, 24 de agosto de 2024

Caldas romanas de Bande

O decuriäo Caius Lupus entrou no castrum de Aquis Querquennis pela entrada poente cansado, sujo e ferido. A tarefa de proteção dos trabalhadores da manutenção da Via XVIII, entre Braga e Astorga, nem sempre era fácil e o confronto com salteadores era constante. Também as revoltas de escravos inconformados, oriundos dos terrenos conquistados da Ibéria, eram constantes e desgastantes.

No alojamento dos oficiais, ao lado das casernas dos legionários, retira a sua armadura de couro e metal, o subarmalis e deposita o gládio e o escudo ao canto.  Vestiu a toga pura.  Pegou no cálice de vidro e nele verteu da ânfora um líquido cristalino e de cheiro forte, a posca, muito apreciado pelos soldados romanos pelas suas qualidades refrescantes e antibacterianas.

Ordena a Amanirenas, escrava núbia esguia, roliça e de pele sedosa, vestida com uma túnica de linho que lhe realçava as formas, que se dirigisse aos banhos, transportando os óleos e a strigula,  e seguiu para as instalações do hospital de Campanhã para sutura das feridas.

Corpo reconstruído, dirigiu-se para os banhos cálidos, saindo pela porta nascente do acampamento muralhado e passando pelo faustoso espaço do pretório. O rio Lima serpenteava lá no fundo do vale.

As águas termais espalhavam-se por várias piscinas onde já outros militares de patente superior se banhavam. Caius retirou a toga, entregou-a á escrava núbia e, naquele dia frio de inverno, lentamente, entrou nas águas quentes e fumegantes. Sentou-se nas pedras de apoio e sentiu a água quente, a mais de 40 graus, dilatar-lhe os poros da pele e a cicatrizar as feridas recentemente suturadas.  Relaxe total. Ainda observou Amanirenas a caminhar em sua direção mas, entretanto, adormeceu. 

Acordei. 

Olhei em volta. As termas romanas mantinham-se intactas. A água borbulhava, aquecida pelo núcleo quente da terra. O castrum passou a ruína bem conservada, parcialmente submerso pelas águas da recente albufeira da barragem das Conchas. Júlio Iglésias cantava numa coluna portátil ligada a um telemóvel, confortando uma espanhola balsaquiana que dourava ao sol.

Não vi a escrava núbia. Decepcionado, regressei a Portugal. 


Caldas romanas de Bande, Ourense, Galiza, Espanha

Local

terça-feira, 2 de julho de 2024

Viajar a comer



A 3km de minha casa, no limite de uma pequena povoação rural, nasceu recentemente um restaurante indiano. 

Há bem poucos anos, este nicho culinário só se encontrava pontualmente na capital. Os antigos habitantes nas regiões ultramarinas de Goa, Damão e Dou, por gradualmente estarem a desaparecer, ja não o reclamam. 

Num dia e na hora de um jogo com a seleção portuguesa, decidimos  experimentar o Taj Mahal, na expectativa que as ofertas fossem do mesmo nível do monumento e para reviver os sabores descobertos nos restaurantes goeses da cidade da Beira.  Restaurante vazio. Logo á  entrada o empregado, solícito e prestativo, num português de difícil perceção, questionou se queríamos um lugar junto à televisão. Prontamente rejeitámos, informando que o objetivo da visita era a degustação dos sabores fortes, explosivos e coloridos da cozinha indiana, e não o emotivo jogo cujo resultado saberíamos aquando do regresso a casa.

E foi isso que aconteceu nos momentos seguintes, quando os vários pratos, entradas, acepipes, molhos, pães e picantes ardentes desfilaram á nossa frente, excitando a pituitária e oleando as papilas gustativas, apresentados didática e detalhadamente pelo agradável colaborador.

Regressámos a casa satisfeitos, quão anacondas em dormente digestão, a pensar o bom que é ter imigrantes á porta de casa, que nos tratam tão bem e nos fazem viajar sentados na mesa do restaurante. 

O resultado do jogo foi o menos importante nessa noite. 

domingo, 12 de maio de 2024

O farol emblemático e viajante


Quem se recorda do antigo farol de Cacilhas? Elegante e esbelto, mostrava-se á aldeia dos asininos  e á alba Lisboa, e salvaguardava em permanência a navegabilidade do rio. Era um marco para quem visitava a povoação. As crianças da altura, puxadas pelas mães para não perderem as camionetas, viravam os grandes olhos para cima,  miravam a intensa luz e magicavam histórias de piratas e navios afundados com valiosos tesouros.

Em visita a ilha Terceira, após passagem pelo refrescante Mata da Serreta, obra ancestral dos serviços florestais locais, fomos visitar o farol com o mesmo nome na zona mais ocidental da ilha, na Ponta do Queimado, sobranceira às ilhas São Jorge e Graciosa, e rodeada pela característica floresta laurissilva. Verificámos espantados que o farol em causa, construído no início do século XX, foi danificado na sua estrutura pelo violento sismo de 1 de janeiro de 1980, e, na sua reconstrução, utilizaram nada mais nada menos  que a torre metálica do farol de Cacilhas, desativado em 1978 devido a construção de um novo cais fluvial e por já não se justificar a sua função. 

No início do século XXI, a câmara municipal de Almada manifestou interesse na antiga e emblemática estrutura, regressando o farol á sua localização de origem, agora mais viajado e conhecedor de outras terras, deixando no seu lugar uma estrutura em fibra de vidro com altura semelhante embora com menos alcance luminoso.

Perdeu a Ponta do Queimado uma torre de um farol do século XIX e ganhou o concelho de Almada o seu emblema de longa data agora, não de cor verde escura mas de um vermelho tão intenso que substituiria a iluminação caso esta ainda fosse necessária.